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Amantle Montsho

As pegadas da corrida para o ouro

"A maioria das meninas acha que esporte é coisa de homem. Amantle mudou essa ideia."

Por MARY PILON

MAUN, Botsuana - Vendo sua filha de 12 anos correr pelo curral da família, Victor Nkape notou que a menina dava piques curtos, indo e voltando, várias vezes. O mais excepcional, disse Nkape, era sua velocidade e intensidade. "Sua filha corre que nem menino", observou o avô de Nkape.

Isso foi há 16 anos.

Hoje, a menina Amantle Montsho tem 28 anos e é uma das mulheres mais rápidas do mundo. Atual campeã mundial dos 400 m rasos, é favorita ao ouro na Olimpíada de Londres.

Botsuana nunca conquistou uma medalha olímpica em nenhum esporte. Se ela subir ao pódio, seu papel pioneiro neste país de 2 milhões de habitantes já estará consolidado.

"Brincávamos o dia todo e apostávamos corrida para ir e voltar da escola. Eu costumava dizer que ela corria feito gente grande", disse Kabelo Monnawalebala, 26, irmã de criação de Montsho.

Amantle Montsho é a filha única de Nkape e Janet Montsho, que se separaram dois anos depois de seu nascimento.

Na adolescência, como continuava a correr, Montsho ficou cada vez mais esbelta e musculosa, atraindo piadas mordazes na escola. Pako Seribe, amigo de Montsho e membro da equipe de Botsuana na prova olímpica do revezamento 4 x 400 m, disse que as mulheres em Botsuana não gostam de correr. "Elas se preocupam demais com a beleza. Elas não querem ser musculosas."

Sem se intimidar, Montsho continuou disputando as competições locais, correndo principalmente em provas curtas, como a dos 100 m rasos. Passou então a atrair a atenção do Conselho Esportivo Nacional de Botsuana.

Aos 16 anos, Montsho largou a escola para trabalhar como vendedora, correndo nas horas vagas. Mas em Gaborone, a capital, o Conselho Esportivo Nacional teve a ideia de reunir as Amantles Montshos de todo o país num programa de duas semanas por mês. Logo depois, Montsho estava fazendo com frequência a viagem de oito a dez horas entre Maun e Gaborone.

As provas curtas e velozes não eram as mais adequadas à força de Montsho, disse Raj Rathedi, um dos seus treinadores. Ele ajudou a orientar sua transição para os 400 m rasos. "Ela começou a realmente apresentar melhorias", afirmou.

Seus tempos continuaram caindo. Ela quebrou várias vezes o recorde nacional dos 400 m. Logo ficou claro que Montsho estava ficando maior que a pista de Gaborone, e ela recebeu uma bolsa da Comissão de Solidariedade Olímpica, que financiou seus treinamentos em Dacar, no Senegal. "Eu sabia que seria difícil", afirmou. "Mas eu sabia que precisava treinar. Eu queria melhorar."

Montsho agora tem patrocínio da Nike e ganha prêmios em dinheiro em competições no mundo todo, incluindo os US$ 60 mil recebidos pelo título mundial no ano passado -quase quatro vezes a renda per capita anual em Botsuana. Na Olimpíada de Pequim, em 2008, ela terminou em oitavo lugar.

A atleta virou um ícone no seu país. Um outdoor em que ela é vista com a bandeira nacional se destaca numa zona industrial de Gaborone. Os editores do jornal "Mmegi", da capital, dizem que já perderam a conta de quantas vezes ela apareceu na capa.

"Amantle! É a nossa menina", disse Tshepang Olerato Tlhako, 19, em Gaborone. "Ela coloca Botsuana no mapa e nos motiva. A maioria das meninas acha que esporte é coisa de homem. Amantle mudou essa ideia."

A próxima Amantle Montsho pode surgir num ambiente semelhante. Em uma recente manhã de sábado, Nkape estava no seu curral com a filha Bonnete, 10. Um dos deveres rotineiros de Bonnete é ir correndo comprar leite numa mercearia à beira da estrada principal, a cerca de 500 metros. Quando Amantle era pequena, ela tinha a mesma tarefa.

Nkape disse que nunca a cronometrou, mas que "Bonnete é mais rápida que Amantle".

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