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Ensaio - Guy Trebay

Praia vira passarela em Nova York

"Os nova-iorquinos podem não ser melhores que as outras pessoas", disse Kenny Hargrove. "Apenas nos vestimos melhor."

Parado no calçadão da praia de Rockaway no bairro de Queens, em Nova York, em um sábado veranil de brisas frescas e ondas suaves sob um céu cheio de nuvens que pareciam pratos, Hargrove tinha formulado uma boa tese.

Ele estava vestido com uma camisa de jeans Levi's com bolsos em ponta e botões de pérola, uma bermuda de algodão listrado e um amplo chapéu de palha que comprou na semana anterior em uma loja de bugigangas, com um chaveiro de corrente dourada ao redor do pescoço.

Antigamente, as pessoas se vestiam bem para sair na cidade. Nos anos 1960, os homens costumavam usar todo dia ternos e as mulheres, chapéus e luvas. Até pouco tempo atrás, os nova-iorquinos tendiam a guardar os shorts e as camisetas apenas para a praia.

Hoje, o uniforme de verão urbano é tão casual e suburbano que a Quinta Avenida parece pouco diferente da área de jogos eletrônicos no shopping center.

Mas, em um trecho do calçadão de Rockaway, os nova-iorquinos mostram que um passeio à praia é a melhor ocasião para ficar seminu em público e, ao mesmo tempo, exibir seu próprio senso de moda.

Só porque você está na praia, não há motivo para abandonar seu próprio estilo. "Eles se ajustam melhor ao corpo", disse a professora Zena Verda Pesta, sobre os shorts de cintura alta em estilo Betty Grable que estava usando.

"Eu não tenho muita cintura, e eles me dão mais cintura", acrescentou Verda Pesta, cuja amiga Lisa Ramsey estava ao seu lado no passeio em shorts de jeans cortados e desabotoados, sobre um conjunto de spandex Black Milk com estampa de esqueleto.

"Pode ler devagar", disse Philip MacRuari a um repórter que verificava seu torso depilado, tatuado da clavícula até a cintura de seu bermudão O'Neill com o epílogo da peça de William Saroyan "The Time of Your Life", de 1939.

"Sou um narcisista", explicou MacRuari.

É só em Nova York que os narcisistas se decoram com diálogos de peças vencedoras do Pulitzer, textos que nos encorajam a tratar cada momento como o melhor de nossas vidas, "de modo que naquele tempo maravilhoso você não aumente a tristeza e a dor do mundo, mas sorria para seu infinito deleite e mistério"?

Talvez não. Mas seria difícil encontrar outra praia na região onde os deleites sejam tão amplamente dispostos quanto em Rockaway.

"Nós amamos cultura -nativa americana, indiana, asiática", disse Amber Canti, que com sua amiga Luna Fernandez veio vestida com uma saia longa estampada no estilo hippie, um top de biquíni e (no caso de Fernandez) um par de brincos candelabro do sul da Ásia.

Onde além de Rockaway alguém se vestiria para ir à praia como Nikki Sneakers, em botas de couro pretas de cano médio, casaco preto e ligas pretas? Ela poderia parecer uma anomalia entre os deuses bronzeados com seus cabelos desbotados e corpos torneados.

O que é realmente maravilhoso em Rockaway, disse Ryan Bucci, um surfista que diz cavalgar as ondas diante da praia da 90th Street há mais de 20 anos, "é que você tem esse estilo Nova York da velha escola", um tipo cada vez menos encontrado na comunidade atrás de grades que Manhattan corre o risco iminente de se tornar.

"Sabe aquele sabor?", disse Bucci, cujos amigos o chamam de "Booch". "É isso, uma mistura de tudo."

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