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Microusinas hidrelétricas trazem mais que energia ao Nepal

Por AMY YEE

BAGLUNG, Nepal - Em Rangkhani, uma remota aldeia no oeste montanhoso do Nepal, as famílias usavam até dez anos atrás lamparinas de querosene e manteiga. A comunicação e os tratamentos de saúde eram precários. O trabalho era escasso.

Mas, desde 2001, um projeto de microusinas hidrelétricas utiliza as águas do rio Kalung Khola para fornecer eletricidade para Rangkhani e as aldeias vizinhas.

"A natureza nos deu uma terra dura: é difícil para a infraestrutura", disse Bhupendra Shakya, um especialista em energia renovável em Katmandu, a capital.

"Mas é adequada para hidro", acrescentou Shakya, que trabalha na Energia Renovável para a Vida Rural, um projeto dirigido pelo governo nepalês, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e o Banco Mundial.

O Banco Mundial estima que os rios do Nepal poderiam fornecer 83 mil megawatts de eletricidade, o que os torna uma das maiores fontes de energia hídrica não utilizadas do mundo.

Estima-se que 2.200 microusinas elétricas, gerando ao todo 18 mil kw, foram construídas no Nepal desde os anos 1970, segundo a Associação de Desenvolvimento de Energia Microhídrica do Nepal. O financiamento veio do governo do Nepal e de agências como o Pnud, o Banco Mundial e as agências de ajuda Norad, da Noruega, e Danida, da Dinamarca.

A microusina hidrelétrica de Rangkhani custou cerca de 2,6 milhões de rupias (ou US$ 29 mil) e gera 26 kw de eletricidade para mil pessoas. Movida pela água canalizada do rio, sem represas, ela não inunda terras e não cria emissões de gases do efeito estufa. Depois de girar a turbina do gerador, a água volta para o rio.

As microusinas hidrelétricas geram menos de 100 kw de eletricidade. Uma pequena usina convencional gera 10 Mw, ou cem vezes mais eletricidade que a maior microusina. Uma grande usina hidrelétrica como a de Três Gargantas na China gera 22.500 Mw.

Para a microusina de Rangkhani, parte do Kalung Khola foi desviada com canais de concreto e pedra construídos sobre o terreno montanhoso, depois afunilados por um cano que desce até a usina. Cabos de transmissão transportam a eletricidade dali até a aldeia.

Diferentemente das barragens, a inundação e o deslocamento de comunidades associados aos grandes projetos hidrelétricos, as microusinas hidrelétricas bem planejadas causam danos mínimos ao entorno, segundo especialistas.

A eletricidade trouxe grandes mudanças. Tul Kumari Sharma, 33, mãe de três filhos, hoje dirige um pequeno moinho de grãos movido a eletricidade, e não realiza mais o trabalho manualmente.

A vida com eletricidade "é o paraíso", exclamou Sharma.

A eletricidade em Rangkhani custa o equivalente a US$ 0,80 por kilowatt-hora e uma residência média usa 12 unidades por mês, um ritmo que se tornou mais acessível com o aumento da renda e as novas oportunidades de trabalho.

Moinhos de grãos e serrarias, lojas e restaurantes hoje funcionam em Rangkhani. Há torres de telefonia celular.

A energia hidrelétrica representa 90% da eletricidade do Nepal. Mas a eletricidade é apenas 2% do consumo total de energia do país, segundo o Centro para Tecnologia Rural, uma organização de desenvolvimento em Katmandu.

O Nepal tem uma indústria de turismo fervilhante e cidades modernas, mas 84% de sua população estão na zona rural. A queima de biomassa representa 86% do consumo total de energia do Nepal. O desmatamento é um grande problema, enquanto a poluição pela queima de biomassa está piorando. Somente cerca de 56% das pessoas usam eletricidade.

O consumo de energia no Nepal aumenta. A demanda cresceu 10% em 2011 diante do ano anterior.

O estabelecimento de microusinas elétricas no Nepal leva de 21 meses. Houve desafios: as operadoras muitas vezes escapam para empregos mais bem pagos no Oriente Médio. O financiamento pode ser difícil. Cerca de 60% dos custos são financiados pelo governo e 20% por voluntários locais. Os 20% restantes geralmente são cobertos por empréstimos. Os bancos nepaleses relutam em conceder empréstimos, mas fundos da agência de ajuda alemã GIZ e outras organizações globais ajudam a preencher a lacuna.

Ram Bahadro Kunwar, 26, que já foi um rebelde maoísta, abriu uma granja de frangos no ano passado. Ele ganhou US$ 1 mil quando vendeu as primeiras aves. Como guerrilheiro, ele só pensava "em mudar o país", lembrou. Com a eletricidade, a mudança está acontecendo, mas de maneira diferente do que ele havia imaginado.

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