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Saúde barata do outro lado da fronteira

Por JENNIFER MEDINA

MEXICALI, México - Os turistas geralmente chegam às cidades fronteiriças mexicanas atrás de alguma aventura ilícita em bares, boates de strip-tease ou motéis suspeitos. Aqui, no entanto, os visitantes estão atrás de algo mais prosaico: um tratamento de canal ou uma cirurgia adiada há meses.

Mexicali adotou a medicina como seu principal atrativo turístico e recebe um número cada vez maior de pacientes da Califórnia e de outros Estados próximos. Os hospitais oferecem operações para redução de estômago, lipoaspiração e dores nas costas. Dentistas prometem extrações, obturações e clareamentos a preços mais acessíveis. E oftalmologistas anunciam cirurgias a laser e exames de rotina.

Milhares de pessoas estão cruzando a fronteira mexicana atrás de tratamentos a preços mais baixos. O afluxo tem crescido nos últimos anos. Muitos são mexicanos que se radicaram nos EUA e não têm plano de saúde, mas há também cada vez mais americanos de classe média, do país inteiro, fazendo cirurgias que a maioria dos planos não cobre.

"No começo fiquei assim: 'Mexicali, onde é isso?'", disse a assistente social Stephanie Rusky, 26, de Oklahoma, que pagou cerca de US$ 8.000 para um pacote que incluía lipoaspiração, mamoplastia e abdominoplastia. Nos EUA, sairia o dobro. "Mas fiz todas as perguntas que eu pude imaginar e acabei me sentindo realmente confortável com a ideia."

Declarações como essa soam como música para Omar Dipp, autoridade turística da cidade.

"Há um enorme mercado para isso", disse Dipp. "Só temos de embalar a proposta do jeito certo. Todos se beneficiam: os hotéis, os restaurantes e a economia local. Se lhes dermos uma razão para vir, eles virão para cá."

No ano passado, cerca de 150 mil pacientes vieram a Mexicali, injetando mais de US$ 8 milhões na economia da cidade, segundo autoridades. Há cerca de uma dúzia de hospitais que costumam receber americanos e muitos têm um administrador especial para coordenar os planos médicos e de viagens. Com quase cem consultórios médicos num raio de seis quarteirões, a cidade quer criar uma zona médica especial, melhorando ruas e calçadas e oferecendo mais serviços turísticos.

Em áreas comerciais e prédios de escritórios, há bem mais consultórios médicos do que qualquer outra coisa. Os hotéis oferecem tarifas especiais para pacientes e a secretaria de turismo local começou a subsidiar viagens de vans a partir de Las Vegas, cerca de 515 km ao norte, para que tragam visitantes que preferem não dirigir. E, neste ano, o governo inaugurou uma fila especial para agilizar o trâmite alfandegário dos turistas-pacientes no lado mexicano da fronteira, evitando esperas que chegam a três horas.

Juan Salas dirigiu quase três horas a partir da sua casa, em Desert Hot Springs (Califórnia), para colocar aparelho dentário na sua filha Abigail, 11. O plano de saúde que ele tem por causa do seu trabalho não cobre cuidados odontológicos. Ele disse que a economia de milhares de dólares no tratamento compensa a viagem de cinco horas (ida e volta) que ele em breve terá de fazer quinzenalmente.

A mulher de Salas, Araceli, disse que sua família frequenta consultórios e hospitais em Mexicali desde que ela era criança.

Numa época em que a filha mais velha deles teve convulsões, a espera por uma consulta nos EUA era de várias semanas. A família consultou um médico daqui, que não só indicou uma nova medicação como também deu o número do celular e se colocou à disposição para tirar dúvidas."Estávamos falando da vida da nossa filha, quisemos socorrê-la imediatamente e conseguimos", disse Salas.

Aqui, muitos mexicanos falam com orgulho sobre o fácil acesso aos seus médicos, contando que eles costumam ligar em poucos minutos quando recebem uma mensagem de texto com alguma pergunta. Um fato sempre repetido indica um atendimento mais humanizado: as enfermeiras aquecem a mão do paciente antes de espetar uma agulha.

Mas há muitas outras coisas que um eventual paciente precisa levar em conta. Nenhum hospital de Mexicali foi certificado por equipes de credenciamento médico dos EUA. Embora as instalações pareçam novas e modernas, não há estudos publicados que monitorem taxas de infecção ou outros fatores de risco.

Carlo Bonfante, proprietário do Hospital de la Familia, onde Rusky esteve internada, disse que as operações mais populares são as de "bypass" gástrico e banda gástrica, mas que ele espera mais gente chegando para receber atendimento básico.

"As pessoas que vivem a poucas milhas daqui, mas em outro país, não podem arcar com o atendimento", disse Bonfante. "Então vamos oferecer isso a eles por menos, não importa do que eles precisem."

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