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Belgrado se torna polo de cirurgia transexual

Por DAN BILEFSKY

BELGRADO, Sérvia - Vinte anos atrás os jornais daqui afirmavam que a transexualidade era um ato contra Deus. Hoje, as pessoas vêm do mundo todo para a Sérvia para se submeter a operações de troca de sexo.

"É surpreendente que um país conservador e patriarcal esteja se tornando um centro de operações de mudança de gênero, mas as atitudes sociais estão mudando lentamente", disse Cristian, um ativista transgênero de Belgrado que não quis dar seu sobrenome.

Quase cem estrangeiros e sérvios passaram por cirurgias de mudança de sexo no último ano e os números estão crescendo, segundo o Centro de Cirurgia Genital Reconstrutiva de Belgrado, com candidatos vindos da França, da Rússia, do Irã e até dos Estados Unidos, da África do Sul, de Cingapura e da Austrália.

A cirurgia de reatribuição genital é cara, polêmica e complexa, e é proibida em muitos outros países da região.

Entre eles, Áustria, Hungria, Romênia, Bulgária e Grécia, e os demais países da antiga Iugoslávia, segundo o doutor Miroslav Djordjevic, professor de urologia que dirige o centro.

Mesmo em países como a França, os cirurgiões se queixam de que não podem receber treinamento adequado ou que são rejeitados por colegas por realizar mudanças de sexo.

A doutora Marci Bowers, uma ginecologista de San Mateo, Califórnia, que realizou 1.100 operações de mudança de sexo nos últimos dez anos e também é transexual, notou que nos EUA, um centro global para mudanças de sexo, somente cerca de cinco cirurgiões realizavam a operação regularmente.

Pacientes estrangeiros dizem que são atraídos para a Sérvia pelo baixo preço, cerca de US$ 10 mil, comparado com US$ 50 mil ou mais em algumas clínicas nos Estados Unidos.

O doutor Dusan Stanojevic, um pioneiro em cirurgia de reatribuição sexual aqui, disse que a transexualidade era um tabu na antiga Iugoslávia.

Mas um cirurgião já falecido, o doutor Sava Perovic, começou a realizar as operações em 1989 e atraiu uma legião de pacientes, assim como colegas cirurgiões. Hoje, essa cirurgia é um nicho aqui, com quatro centros médicos especializados no procedimento.

Daniel, um advogado russo de 25 anos de São Petersburgo que não quis dar seu sobrenome, veio para Belgrado em maio para realizar sua cirurgia.

A operação e o tratamento foram tão bem-sucedidos que Daniel, que levanta pesos regularmente e gosta de exibir a barba curta, dá poucos sinais de que já foi mulher um dia.

Apesar de todos os desafios de ser um transgênero, Cristian disse que ter sido criado na Sérvia nos anos 1990 causou certa resistência. "Quando as bombas caem do céu e as pessoas estão em guerra, a identidade sexual não é sua principal preocupação", disse ele.

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