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Ensaio - Louis Uchitelle

Um país perde sua caixa de ferramentas

NEW ROCHELLE, Nova York - Dominar as ferramentas e trabalhar com as próprias mãos está em baixa nos Estados Unidos como hobby, como habilidade valiosa e como influência cultural que moldou o pensamento e o comportamento em vastas áreas do país.

A autoimagem do americano como um povo habilidoso, criativo, capaz de fazer qualquer coisa está se deteriorando.

O treinamento vocacional tradicional nos colégios públicos declina gradualmente. As faculdades, por sua vez, desde 1985 formaram menos engenheiros químicos, mecânicos, industriais e metalúrgicos.

O declínio começou na década de 1950, quando a indústria gerava 28% do PIB e empregava um terço da força de trabalho. Hoje, a produção industrial gera apenas 12% do PIB e emprega cerca de 9% da mão de obra do país.

"Em uma geração anterior perdemos nossa conexão com a terra, e agora estamos perdendo a conexão com as máquinas de que dependemos", disse Michael Hout, um sociólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley. "As pessoas que trabalham com as mãos estão fazendo coisas hoje que chamamos de empregos serviçais, em restaurantes e lavanderias, ou em tecnologia médica e semelhantes."

Essa é uma explicação para o declínio das habilidades manuais tradicionais. Falta de interesse é outra. O dinheiro grande está em campos como as finanças.

"Os jovens crescem sem desenvolver as capacidades para consertar coisas na casa", disse Richard T. Curtin, diretor da pesquisa de consumidores Thomson Reuters/Universidade de Michigan. "Eles sabem sobre computadores, é claro, mas não sabem construí-los." A presença cada vez menor da indústria manufatureira sem dúvida ajuda a explicar o declínio das habilidades manuais, porque muitos trabalhadores na linha de montagem eram competentes em trabalhos manuais, senão no emprego em seu tempo livre. Em um estudo do fim dos anos 1990 sobre empregados industriais em uma fábrica da General Motors (hoje fechada) em Nova Jersey, a socióloga Ruth Milkman, da Universidade da Cidade de Nova York, descobriu que muitos trabalhadores da linha de montagem nas horas vagas faziam reparos em casa e outros trabalhos técnicos.

"Eu costumava pensar que esses trabalhos extracurriculares eram um esforço de parte dos trabalhadores para recuperar sua dignidade depois de sofrer a degradação do trabalho repetitivo na linha de montagem na fábrica", disse Milkman.

O trabalho manual tem status mais elevado em países como a Alemanha, que investe em programas de aprendizado para estudantes colegiais. "As empresas na Alemanha perceberam que havia um interesse a ser servido econômica e patrioticamente na formação de uma mão de obra capacitada no país; nunca tivemos esse caráter", disse Richard Sennett, um sociólogo da Universidade de Nova York.

Milkman afirma que a habilidade dos americanos não está desaparecendo tão rapidamente quanto alguns diriam -mas que ela passou para os imigrantes. "O orgulho pelas habilidades manuais está vivo no mundo imigrante", disse ela.

Sol Axelrod, 37, diretor da loja de materiais e ferramentas Home Depot em New Rochelle, aprendeu a consertar seu carro na adolescência, até a trocar os freios. Hoje, ele encontra mecânicos imigrantes em abundância diante de sua loja de manhã cedo, esperando para comprar peças para o trabalho diário como autônomos.

Axelrod também diz que a recessão e o alto desemprego persistentes obrigaram muitas pessoas a tentar economizar fazendo mais elas mesmas e, por isso, a Home Depot oferece aulas de conserto de torneiras e outros reparos simples.

"Nossos clientes podem não estar construindo armários embutidos ou deques ao ar livre; tentamos fazer isso por eles", disse Axelrod. "Mas alguns tentam melhorar suas capacidades para poderem fazer mais sozinhos nestes tempos difíceis."

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