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Sicília corre o risco de ser "a Grécia da Itália"

Por RACHEL DONADIO

PALERMO, Sicília - Enquanto o primeiro-ministro Mario Monti luta para proteger a Itália do contágio que empurra o custo dos empréstimos a níveis perigosos, uma região está sob os refletores: a Sicília, que segundo alguns poderá se tornar "a Grécia da Itália", com o risco de moratória.

Monti escreveu para o presidente regional da Sicília em meados de julho, advertindo que tem "sérias preocupações". Na véspera, uma autoridade da filial siciliana da maior associação de industriais da Itália pediu que o governo central declare a falência da ilha, para organizar suas finanças.

Quando as manchetes sobre uma potencial moratória siciliana repercutiram pelo mundo, o governo rapidamente minimizou as preocupações e disse que enviaria ¤ 400 milhões (cerca de US$ 486 milhões) para reduzir o aperto de liquidez da Sicília e ela continue pagando salários e aposentadorias. Uma autoridade do governo disse que a carta de Monti se destinava a um público doméstico e que os problemas da Sicília não podiam se espalhar pelo país.

Mas com a crise da dívida na Europa a política local rapidamente tornou-se um problema internacional. A erupção sobre a Sicília salienta os desafios que Monti enfrenta ao tentar usar a pressão de líderes europeus e dos mercados internacionais para forçar os políticos italianos a cortar os custos. Essas despesas foram infladas durante décadas de um sistema de nepotismo em que o Estado foi o principal empregador na Sicília.

Também foram um duro lembrete da fragilidade da Itália enquanto Monti luta para evitar que o país peça um resgate, que viria com as condições onerosas que prejudicaram as economias grega e espanhola. Em 20 de julho, a Bolsa de Milão caiu 5%, e a diferença nas taxas de juros sobre os títulos italianos e alemães atingiu seu nível mais alto em meses, um sinal de que os investidores consideram a Itália uma aposta arriscada.

Em uma entrevista em 20 de julho, Raffaele Lombardo, o presidente da Sicília desde 2008, recebeu as críticas com indignação.

"A Sicília corre o risco de moratória porque a Itália corre o risco de moratória", disse Lombardo. "Nós cortamos despesas, mas não crescemos. Essa é uma espiral que vai nos levar ao abismo."

Quando os dois se reuniram em Roma em 24 de julho, Monti impôs um regime estrito de corte de gastos. Lombardo disse que cumpriria sua promessa de se demitir no final de julho. A medida deveria dar a Monti um pouco mais de força para conter os gastos.

Lombardo será substituído até as eleições regionais em outubro por um membro do comitê governante da Sicília que é considerado em melhores relações com o Ministério das Finanças da Itália.

Mas muitos críticos dizem que a Itália -e a Sicília em particular- foi levada às enormes dificuldades financeiras não pela austeridade, mas pelos gastos públicos desenfreados do passado, produto de um sistema arraigado de troca de empregos por votos que ajudou a manter os governos italianos no poder e os sicilianos empregados.

Hoje, o governo da Sicília tem 1.800 funcionários -mais que o gabinete de governo britânico- e a ilha emprega 26 mil auxiliares de patrulheiros florestais; nas vastas florestas da Colúmbia Britânica, no Canadá, há menos de 1.500.

De uma população de 5 milhões de pessoas na Sicília, o Estado emprega mais de 100 mil e paga aposentadorias para muitos mais. Lombardo disse que os funcionários públicos têm proteção no emprego. "Precisamos esperar que eles se aposentem."

Esse sistema tem um preço. Em junho, o tribunal de auditoria da Itália emitiu um relatório, dizendo que a Sicília tinha ¤ 7 bilhões (cerca de US$ 8,5 bilhões) em dívidas no fim de 2011 e demonstrava "sinais de um declínio incontrolável".

O índice de desemprego na Sicília é de 19,5%, o dobro da média nacional, e 38,8% dos jovens não têm empregos. Muitos sicilianos estão desiludidos sobre a classe política.

"Se eu roubar um pouco, vou para a prisão, se roubar muito, avanço em minha carreira", disse Gioacchino De Giorgi, 34, que trabalha em uma tabacaria em Palermo.

Ele disse que se preocupa com o futuro. "Você viu o que aconteceu na Grécia, o que aconteceu na Espanha", disse. "Também vai acontecer aqui."

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