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Artista fica famoso 40 anos depois de estrear

Por LARRY ROHTER

Um cantor e compositor americano assina contrato com uma gravadora no final dos anos 1960. Lança dois álbuns que quase não vendem, e então some da cena pública. Então por que, 40 anos mais tarde, alguém ficaria motivado a fazer um filme sobre esse artista obscuro, conhecido profissionalmente como Rodriguez?

Porque, como ficamos sabendo, na África do Sul, Rodriguez (seu nome completo é Sixto Rodriguez, mas ele usa apenas o sobrenome) virou tão popular quanto The Rolling Stones ou Elvis Presley. Mas ele nunca soube desse sucesso. Nunca recebeu um centavo de royalties por isso, e passou décadas fazendo trabalho braçal para sustentar suas três filhas. Foi apenas quando fãs dele na África do Sul, procurando checar rumores segundo os quais ele teria morrido, o encontraram através da internet e o levaram à África do Sul para se apresentar para multidões, que sua carreira foi ressuscitada.

"Foi a maior e mais espantosa história verídica que eu já ouvi -um conto de fadas quase arquetípico", disse o sueco Malik Bendjelloul, diretor de "Searching for Sugar Man", um documentário sobre Rodriguez.

Na era anterior à internet, os sul-africanos, vivendo sob o "apartheid" e isolados das correntes principais da cultura pop pela censura doméstica e sanções internacionais, não faziam ideia de que Rodriguez passava dificuldades vivendo no anonimato em outro país.

Bendjelloul reconheceu que "Searching for Sugar Man" pode ser interpretado como uma meditação sobre a natureza inconstante e arbitrária da celebridade e da fama. O título do filme se deve a "Sugar Man", um retrato sombrio de um traficante de drogas e seus clientes que é a primeira faixa do álbum de estreia de Rodriguez, "Cold Fact", lançado em março de 1970. Outras canções dele tratam de questões sexuais e sociais, política e desigualdades econômicas e raciais. Como explica o filme, tudo isso tornou as canções muito atraentes para jovens sul-africanos brancos que eram contra tanto o "apartheid" quanto a moralidade calvinista prevalecente em seu país. Alguns chegam a atribuir a Rodriguez sua conscientização da opressão imposta pelo governo.

Rodriguez, que completou 70 anos em julho, aprendeu a tocar seu instrumento com seu pai, imigrante mexicano que foi a Detroit para trabalhar nas fábricas automobilísticas. Musicalmente falando, ele está imbuído da tradição de protesto musical dos anos 1960.

Depois de sua carreira como músico ter fracassado, em 1972, Rodriguez -cujas apresentações ao vivo eram dificultadas por seu hábito de tocar de costas para o público- foi trabalhar como operário na construção. Ele se mostra sereno em relação às oportunidades que perdeu e às dificuldades que suportou.

"Não vale a pena ficar refletindo demais sobre as decisões que tomamos. Sim, eu optei por encarar a realidade", disse. "Sou pai de família, e você tem que fazer essas escolhas. É preciso abraçar sua condição, como dizia meu pai."

Na área boêmia de Cass Corridor, em Detroit, o mesmo bairro em que circulavam a banda MC5, Iggy Pop, a revista "Creem" e o White Stripes, Rodriguez se tornou uma figura conhecida -uma presença magra e espectral vestida de preto, como Johnny Cash, um excêntrico saudado pelas pessoas, que andava por toda parte e não tinha telefone. Ele se formou em filosofia e fez incursões na política, chegando a se candidatar a prefeito de Detroit.

Bendjelloul disse que mesmo hoje Rodriguez "não ganha nada com suas vendas na África do Sul", mas Clarence Avant, proprietário do selo Sussex, que lançou os dois discos do músico, disse que essa situação será remediada em breve, graças a um contrato que ele fechou com a Universal Music. Rodriguez deve iniciar sua primeira turnê americana em breve. Em 24 de julho, o selo Legacy, da Sony, lançou um CD da trilha sonora do filme, com versões remasterizadas de 14 canções de Rodriguez.

"Acho que todos queremos alcançar nossas metas, mas eu acredito que antes da hora ou tarde demais não existem", disse ele.

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