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Inteligência/Roger Cohen

Grandeza não é a solução

Os candidatos perdem ao apoiar um séc.21 dos EUA

LONDRES

Mitt Romney diz que tem "uma convicção e paixão devastadora". É a de que o século 21 "deve ser um século americano", em que os Estados Unidos liderem o mundo livre e "o mundo livre lidere o mundo inteiro".

Parece uma paixão estranha para um momento em que a ascensão de outras grandes potências, incluindo a China e a Índia, é inexorável, o tesouro americano disponível para administrar o globo é limitado e as questões que envolvem os americanos -como empregos- são muito mais prosaicas. O século 20 foi americano. O duplo suicídio da Europa deu a condução do mundo para os EUA. Em geral, é sábio sair no topo, em vez de se agarrar a uma posição cujas fundações se desgastaram.

Mas, para não ser superado, aqui está Barack Obama em um discurso semelhante no mês passado: "Se alguém tentar lhes dizer que nossa grandeza passou, que a América está em declínio, vocês lhe digam isto: assim como o século 20, o século 21 será mais um grande século americano".

O discurso do presidente é mais cauteloso -palavras são algo que ele mede cuidadosamente. Aquele adjetivo "grande" diminui o grau em que o século será americano, assim como qualquer palavra adicional reduz o significado de "eu te amo". Obama parece sentir a necessidade de apostar em uma reivindicação americana ao século 21.

O que está acontecendo aqui -um surto de inveja da China, um acesso de nostalgia? Talvez Clint Eastwood possa ajudar. Eu gosto tanto de Mystic River que quase posso perdoar que o astro e diretor de cinema apoie Romney. O que posso fazer sem reservas é simpatizar com a explicação lacônica que deu: "Acho que o país precisa de um empurrão".

Sim, precisa. Obama fez muitas coisas, mas quando a euforia de sua eleição se dissipou ele não alterou o ânimo abatido dos americanos. Se o tivesse feito, a eleição já seria dele, porque suas realizações -desde matar Osama bin Laden a trazer o país de volta do precipício econômico de 2008- são consideráveis. O que lhe falta em certa medida é um temperamento simpático.

Não que Romney, que muitas vezes parece envolvido em uma boa imitação de "Nowhere Man" dos Beatles, ofereça mais nesse sentido. Exatamente como o suposto indicado republicano vai incentivar o país ao não negociar com os taleban -"devemos ir a qualquer lugar onde eles estejam e matá-los"-, bater os tambores de guerra com o Irã e embarcar em uma nova era de confronto com a Rússia não está claro. Mais guerra não é o remédio de que os Estados Unidos precisam.

Eu acho que Romney sabe disso. Fale com qualquer pessoa em Massachusetts, o Estado que ele governou, e ela lhe dirá que ele é um tipo pragmático. Esse é um dos problemas desta eleição. Temos um político frio, distante, analítico e pragmático em exercício, diante de um aspirante frio, distante, analítico e pragmático. (Mas Obama não é apoiado por um bando de cabeças-quentes de direita como o bilionário dos cassinos Sheldon Adelson, o maior contribuinte da supercampanha de Romney, que acreditam que os palestinos são um "povo inventado" e que estão loucos para guerrear com o Irã.)

É um momento de opções limitadas. Depois das guerras do 11 de Setembro, os EUA estão esgotados. O mundo está tão entrelaçado -como se vê no exemplo das relações simbióticas mas tensas entre os EUA e a China- que nenhum país isolado pode ser seu guardião ou guia.

Mas os EUA estão programados pela ideia de ser um farol para o mundo, o bastião e portador da liberdade. É compreensível que, olhando para suas opções limitadas e a necessidade de levantar esse ânimo abatido, Romney se concentre em uma frase de um documento de campanha escrito pelo historiador Eliot Cohen, que afirmou que o governo Obama vê o declínio dos EUA como uma "condição que pode e deve ser administrada para o bem global, em vez de revertida".

Aha! Então Romney diz: "Eu não vejo os EUA como mais um ponto no mapa estratégico, mais uma potência. Acredito que nosso país é a maior força do bem que o mundo já conheceu". E segue dizendo coisas semelhantes.

Obama, um pouco irritado, tenta aumentar a aposta com "mais um grande século americano". Mas é claro que toda a conversa sobre a excepcionalidade americana não fará os americanos se sentirem melhor ou esconderá o fato de que somente uma economia forte pode sustentar o poder. A reversão econômica é a tarefa do próximo presidente. Ela não será promovida por meio de ilusão, nostalgia ou exagero.

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