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José A. Lorente

DNA auxilia buscas por crianças perdidas

Por SUZANNE DALEY

GRANADA, Espanha - Foi há mais de uma década, ao passar de táxi por bairros centrais de Lima, que o médico espanhol José Lorente, especialista em genética forense, começou a pensar no drama das crianças de rua.

Ele havia ido ao Peru para ajudar policiais locais na identificação dos corpos de alguns terroristas, mas não resistiu a perguntar o que eles faziam para ajudar as crianças. Os policiais responderam que havia pouco a fazer -não havia como identificá-las, muito menos reuni-las a suas famílias e geralmente os menores fugiam se eram levados a orfanatos.

Lorente não ficou satisfeito com a resposta.

"Eu sabia que havia um jeito", disse ele. "Eu sabia que o DNA poderia fazer isso. E eu pensei: 'Podemos acompanhar a linhagem de cães e cavalos de corrida, não podemos fazer o mesmo pelas crianças?'."

Na década de 1990, Lorente fez pesquisas num centro de treinamentos do FBI (polícia federal dos EUA) em Quantico, na Virgínia, e ajudou a desenvolver exames de DNA com amostras muito deterioradas.

Ele virou notícia ao ajudar na identificação dos restos mortais de Cristóvão Colombo e Simón Bolívar e de corpos achados em valas comuns no Chile e em outros lugares.

Ele acabou convencendo autoridades de 16 países -incluindo a Guatemala, o México, o Peru, o Equador, o Brasil, o Nepal, a Indonésia, a Malásia, a Índia e a Tailândia- a começarem a reunir bancos de dados de DNA que possam identificar crianças desaparecidas e reuni-las a suas famílias.

Lorente, 51, antevê uma rede de bancos de dados nacionais que armazenem o DNA dos pais que tiveram filhos desaparecidos. Assim, quando as crianças forem localizadas, mesmo que anos depois, será possível cruzar os dados. Ele também acha que esses bancos de dados serão cruciais para evitar a adoção de crianças roubadas e para desbaratar quadrilhas de tráfico humano.

"Isso tudo é factível e deveríamos estar fazendo", disse Lorente.

A fundação que ele criou, chamada DNA-Prokids, vem fornecendo milhares de kits gratuitos para coleta e exames de DNA. Até agora, diz ele, esses exames já permitiram a reunião de cerca de 550 crianças com suas famílias, a maioria na Guatemala e no Peru. Os testes também impediram mais de 200 adoções ilegais.

Lorente acredita que a adoção deveria sempre envolver um exame genético, para garantir que a criança está sendo entregue pelos pais verdadeiros.

E ele diz que 80% das crianças de rua do mundo têm famílias que de bom grado as aceitariam de volta se as encontrassem.

O especialista diz que trabalhar em casos como a identificação dos restos de Colombo e Bolívar é realmente interessante. Mas que os casos mais intimistas o marcam mais. "Quando você pode olhar uma mãe e dizer: 'Ok, encontramos o corpo do seu filho' -isso para mim é tremendo."

Até recentemente, ele não conhecia nenhuma das famílias reunidas com a ajuda da DNA-Prokids. Mas a empresa que desenvolveu alguns dos kits de exame decidiu fazer um vídeo promocional e o levou à Califórnia para conhecer Brenda Corado, que havia reencontrado sua filha, Angela, na Guatemala.

Corado estava andando pela rua com Angela, então com 21 dias de idade, quando dois homens saltaram de um carro, agarraram o bebê dos seus braços e a agrediram até que ela desmaiasse.

Não se sabe o que os homens queriam fazer com a criança. Lorente acredita que provavelmente pretendessem lucrar entregando-a para adoção.

Mas, dois meses depois, um bebê foi abandonado numa emissora cristã de TV da Guatemala e, com análises do DNA, a polícia conseguiu descobrir que a criança se tratava de Angela.

"Eu vi como ela estava", disse Lorente sobre seu primeiro encontro com Corado. "O que ela podia dizer? A gente não ganha dinheiro com isso. Mas fica orgulhoso."

Rachel Chaundler colaborou com reportagem

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