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Pequenas empresas movimentam a economia alemã

Por JACK EWING

FRANKFURT - Um número crescente de alemães pode querer o fim da zona do euro, mas Dagmar Bollin-Flade, dona de uma pequena companhia de maquinário aqui, não é um deles.

Como muitos empresários alemães, ela tem forte consciência dos benefícios econômicos de uma moeda comum.

"Todos os que dizem 'queremos sair do euro' não se lembram de como era antes", disse Bollin-Flade.

Sua empresa, a Christian Bollin Armaturenfabrik, pertence ao vasto time de pequenas e médias empresas do país conhecidas como "Mittelstand", setor que responde por 60% dos empregos da Alemanha.

A maioria não tem saudade do tempo em que elas e seus clientes tinham de ficar de olho no valor de uma dúzia de moedas europeias, um tempo em que o marco alemão era tão forte que ameaçava expulsá-los do mercado externo.

Mais que a maioria, o Mittelstand se beneficiou do euro, que tornou mais fácil as pequenas empresas se comportarem como multinacionais.

A Bollin, com apenas 30 empregados em uma pequena fábrica, vende suas válvulas especiais para clientes na China e em toda a Europa.

Bollin-Flade, que foi um dos dez empresários convidados para discutir questões do Mittelstand com a chanceler Angela Merkel em seu gabinete no ano passado, disse que apoia a estratégia da líder alemã de insistir que a ajuda financeira seja oferecida a países da zona do euro em dificuldades somente se eles exibirem maior disciplina fiscal.

"Devemos receber algo em troca", disse ela.

Alguns economistas gostariam que os alemães gastassem mais para estimular o crescimento no resto da zona do euro.

Mas os alemães afirmam que sua abordagem ajudou o país a evitar crises como as que atingiram a Espanha e a Itália e ameaçam a França.

Enquanto a Grécia acumulava dívidas na última década, as empresas do Mittelstand cortavam as suas, segundo dados do Instituto de Pesquisa do Mittelstand, em Bonn.

"Elas querem aumentar sua independência dos bancos e do financiamento externo", disse Christoph Lamsfuss, um economista do instituto.

"Elas querem garantir que a próxima geração herde uma empresa sólida. Em última análise, isso é bom para a economia alemã."

A economia na zona do euro passou oficialmente da contração à estagnação no segundo trimestre de 2012. O PIB de abril a junho caiu 0,2% em relação ao trimestre anterior. No precedente, o crescimento foi zero.

Empresas como a Christian Bollin Armaturenfabrik terão um papel importante para determinar o quanto a economia alemã vai oferecer de contrapeso.

Alguns anos atrás, Bollin-Flade fez algo que talvez ajude a explicar por que a economia alemã tem sido tão resistente.

Ela recusou encomendas extras de seu maior cliente.

A empresa ficou preocupada em se tornar excessivamente dependente de qualquer fonte de renda. Então aplicou uma regra que continua valendo hoje: nenhum cliente pode ser responsável por mais de 10% das vendas, mesmo que isso às vezes signifique recusar negócios.

"Se 20% de suas vendas caírem, é difícil", disse Bollin-Flade. "Se 10% caírem não é bom, mas não é dramático."

Em lugares como o Vale do Silício ou Xangai, evitar lucros como esses provavelmente bastariam para fazer um empresário ser expulso da câmara de comércio.

Mas a aversão a riscos e a preferência por um crescimento lento e constante, em vez de dinheiro rápido, é típico do Mittelstand.

"Minhas máquinas estão pagas", disse Bollin-Flade. "Eu não tenho crédito bancário. É o que diferencia o Mittelstand. Você reserva algo para os tempos ruins."

Mas -ilustrando uma das forças típicas das firmas do Mittelstand- a Bollin Armaturenfabrik também tem uma boa reputação internacional.

Isso significa que exporta seus produtos de ponta para todo o mundo.

Há alguns dias, um pallet de madeira estava no chão da oficina cheio de caixas de papelão marcadas para a China.

"Isso vai para Pequim na sexta-feira", disse Marcus Franz, o gerente de produção, falando mais alto que o zumbido dos tornos e prensas.

A Bollin é especializada em fazer peças sob encomenda e entregá-las rapidamente -às vezes horas depois, quando necessário. "O preço não é a questão. O prazo de entrega é a questão", disse Bollin-Flade.

"Não há muitas empresas que queiram fazer isso", acrescentou.

Ela resumiu a abordagem frugal do Mittelstand aos negócios citando um antigo ditado: "Você só pode usar um par de calças. O segundo está no armário e você não precisa do terceiro".

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