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Medo e carteiras vazias encurtam férias italianas

Por ELISABETTA POVOLEDO

LIDO DI OSTIA, Itália - Com pouco dinheiro depois das reformas econômicas aprovadas pelo governo, e preocupados com seu futuro financeiro, um grande número de romanos está passando o verão aqui, apesar de esta cidade litorânea ficar a apenas 25 quilômetros da capital.

"Roma pode estar perto, mas a gasolina é cara, por isso as pessoas pensam duas vezes antes de vir à praia", disse Susanna Corti, dona da La Vela, um balneário que oferece serviços de praia. Os romanos hoje tendem a visitar só nos fins de semana, disse. "As pessoas estão sentindo a crise."

A Associação de Hoteleiros Italianos prevê que a metade dos italianos ficará em casa neste verão e o número de pessoas que estão tirando férias vai cair 19%.

Cerca de 52% dos pesquisados citaram como motivo o encolhimento das finanças pessoais. No ano passado, a economia foi responsável por 43% dos que ficaram em casa nas férias.

"Na memória recente, não houve uma queda tão drástica e generalizada", disse Bernabò Bocca, presidente da associação, acrescentando que os números indicam uma tendência ampla.

Renato Papagni, presidente nacional da Assobalneari, a associação dos balneários, disse que o declínio está sendo sentido em todo lugar. O turismo na Sardenha caiu 30% neste ano, segundo a associação. Áreas da Campania também estão em dificuldades, assim como a costa Adriática, apesar de campanhas para atrair turistas.

"De modo geral, o declínio no litoral neste ano ficou em torno de 10% a 12%", disse Papagni.

Em Ostia, ele e outros disseram que os que vêm estão "duros". As cabines para trocar de roupa geralmente eram alugadas por toda a temporada, que vai de 1° de maio a 30 de setembro, por cerca de US$ 3.700. Neste ano ainda há cabines disponíveis, mesmo com preços reduzidos. Mais famílias estão compartilhando. "Nos últimos anos, elas estão dividindo por causa dos custos", disse Papagni.

Muitos outros estão indo para as várias praias gratuitas de Ostia.

"Muitos romanos descobrem que não é mais possível fazer o que costumavam fazer", disse Karla Duceschi, que tomava banho de sol em uma dessas praias. "Tudo está mais caro. Só nossos salários ficaram iguais", acrescentou.

Daniela, uma cozinheira que não quis dar o sobrenome, geralmente passava o verão em uma praia da Croácia. Agora, com os impostos e os gastos mais altos, ela prefere tardes ocasionais em uma praia grátis de Ostia. "As pessoas têm medo de gastar porque ninguém sabe quando a crise vai terminar", disse ela.

O restaurante no La Playa em Ostia costumava ser uma atração, disse Angelo Radano, o gerente do resort. Hoje, os visitantes trazem sacolas com o almoço, ou preferem lanches baratos.

As pessoas não têm mais tanta renda disponível. "Se você ordenhar a mesma vaca durante muito tempo, mais cedo ou mais tarde ela vai secar", lamentou ele.

Até os legisladores estão tirando as férias de verão mais curtas dos últimos cinco anos: o Parlamento entrou em recesso em 8 de agosto e reabre em 3 de setembro.

A tendência a ficar em casa deu origem a um videoclipe, "Resto a Roma" ("Fico em Roma"), produzido por uma emissora romana. Ele atraiu 840 mil acessos on-line desde seu lançamento em junho.

Alessandro Tirocchi, um DJ, compôs o vídeo. "A crise é comum a todos", disse ele. "Não temos muitas maneiras de superá-la no momento, então por que não rir de nós mesmos?"

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