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Epidemia de cólera assola a África Ocidental

POR ADAM NOSSITER

DACAR, Senegal - Uma epidemia de cólera está se espalhando pelas favelas litorâneas da África Ocidental, matando centenas de pessoas e contaminando muitas outras num dos piores surtos dos últimos anos na região, segundo sanitaristas.

A propagação da doença, transmitida por fezes contaminadas, se intensificou neste ano devido a inundações em favelas de Freetown e Conacri, capitais de Serra Leoa e Guiné, respectivamente.

Nesses dois países, cerca de dois terços da população carecem de banheiros, uma ameaça letal na época chuvosa, por causa da contaminação da água.

A ONG Médicos Sem Fronteiras disse que o número de casos de cólera neste ano em Serra Leoa e em Guiné duplicou em relação ao mesmo período de 2007, quando, essa área teve o seu último grande surto.

Até agora, mais de 13 mil pessoas já foram internadas nas capitais dos dois países com sintomas da doença -diarreia, vômitos, desidratação grave-, e 250 a 300 morreram, segundo especialistas da Médicos Sem Fronteiras.

Em Serra Leoa, o governo declarou emergência nacional por causa do cólera, e na Guiné agentes humanitários disseram que o surto ainda não deve ter atingido seu auge.

Ambos os países foram devastados por anos de conflitos civis e políticos, e Serra Leoa ainda se recupera de uma década de sangrenta guerra civil que levou milhares de pessoas de zonas rurais a fugirem para favelas em áreas urbanas.

As chuvas já contribuíram para mortes por cólera também no Mali e no Níger, segundo autoridades sanitárias.

Agentes humanitários dizem que o número de casos da doença altamente contagiosa continua crescendo, especialmente em Freetown, onde a maioria das pessoas mora em favelas e as crianças nadam e brincam em águas poluídas.

"Elas chegam quase inconscientes por causa da desidratação", disse Natasha Ticzon Reyes, uma das coordenadoras dos Médicos Sem Fronteiras em Freetown.

Já houve mais de 11,6 mil casos de cólera em Serra Leoa desde janeiro, sendo pelo menos 216 fatais, segundo a ministra local da Saúde, Zainab Bangura.

Mais de mil novos casos por semana são registrados em Freetown, de acordo com autoridades sanitárias locais.

Na Guiné, houve neste ano 2.700 casos, com 80 mortes. "Houve fortes chuvas durante o último mês e isso não está ajudando", disse Danicel Mouqué, dos Médicos Sem Fronteiras em Conacri.

As casas dos pacientes são aspergidas com cloro para conter a difusão da doença, segundo Mouqué.

Nos 14 países da África Ocidental e Central, foram registrados 40.799 casos de cólera desde o começo deste ano, com 846 mortes, sendo que mais de metade dos casos relatados tiveram origem na República Democrática do Congo -onde renovados conflitos de milícias com o governo torna a situação ainda mais delicada.

A Unicef (agência da ONU para a infância) disse que essas cifras são comparáveis aos totais regionais para 2011, quando houve mais de 105 mil casos e quase 3.000 mortes, no que foi considerado uma das piores epidemias de cólera da região.

Enquanto a epidemia do ano passado estava focada na região do lago Chade, abrangendo os países de Camarões, Nigéria, Chade e Níger, neste ano, o surto se concentra sobretudo no litoral.

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