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Dinheiro & Negócios

Um empreiteiro contra os deuses na Índia

POR VIKAS BAJAJ

Sete anos para construir um resort no Himalaia

MANALI, Índia - Para John Sims, os Himalaias, que têm algumas das melhores montanhas do mundo, parecia o lugar perfeito para construir a primeira estação de esqui em estilo ocidental na Índia. Mas os deuses locais -ou os homens santos que alegam falar por eles- foram seu maior problema.

Nos sete anos desde que começou, Sims, um empreiteiro de hotéis americano com anos de experiência de trabalho na Índia, encontrou desafios aparentemente intermináveis.

Alguns adversários alegaram falsamente que o projeto de 46 hectares ocuparia o vale inteiro. Outros se queixaram de que os desenvolvedores haviam pago muito mal aos proprietários de terras. O Estado de Himachal Pradesh, que já havia defendido o projeto de US$ 500 milhões, decidiu cancelá-lo depois que outro partido político foi eleito. Agora um tribunal permitiu que ele siga em frente, mas deu aos empresários apenas seis meses para conseguir autorizações ambientais de um governo que adiou o projeto diversas vezes.

"Minha queixa principal é esta: por que vocês nos convidaram?", disse Sims. "Por que aceitaram nosso depósito? Por que nos incentivaram a gastar dinheiro e depois deram meia volta?"

Não é fácil fazer negócios na Índia. O Banco Mundial classifica o país em 166° lugar entre 183 economias quanto à facilidade para se abrir uma empresa.

O investimento direto estrangeiro foi forte no ano passado. Mas no primeiro semestre deste ano caiu para US$ 16,5 bilhões, 18% a menos que no mesmo período de 2011, segundo o Banco Central da Índia.

Algumas empresas multinacionais perderam a paciência. A Etisalat, telecom dos Emirados Árabes Unidos, a gigante da energia italiana Eni e o desenvolvedor de aeroportos alemão Fraport ou se retiraram da Índia ou estão considerando isso por causa de atrasos e mudanças de políticas aleatórias.

"Para os investidores estrangeiros, um ambiente político estável e previsível, juntamente com instituições jurídicas e políticas confiáveis, são considerações vitais, além do tamanho do mercado e do potencial de crescimento", disse Eswar S. Prasad, um economista da Universidade Cornell em Ithaca, Nova York.

A economia indiana está desacelerando acentuadamente e se tornando ainda mais dependente do capital estrangeiro. O primeiro-ministro Manmohan Singh se preocupa o suficiente para prometer políticas mais amistosas.

Há cerca de uma década, Sims, hoje com 60 anos, teve a ideia de construir uma estação de esqui como Davos, na Suíça.

Os investidores do resort acharam um lugar aparentemente ideal. Embora ninguém viva no local o ano inteiro, os aldeões plantam feijões e batatas e levam o gado para pastar lá. De três lados há uma visita maravilhosa do vale Kullu e o quarto lado é uma montanha em que Sims pretendia construir um teleférico que subiria 4.270 metros.

"É um lugar espetacular", disse. O local fica a dez horas de viagem do aeroporto mais próximo, mas Sims estava otimista sobre seu país das maravilhas de inverno.Após um passeio de bondinho até a aldeia onde não há carros, os visitantes encontrariam hotéis, um bazar de artesanato, pista de patinação no gelo e o teleférico para as pistas de esqui.

O governo estadual concordou em alugar terras florestais para Sims e isentá-lo de uma restrição à propriedade de terra.

A aldeia de esqui geraria 4.000 empregos, disse Sims. Muitos moradores locais apoiaram o projeto. Mas outros disseram que os ocidentais ruidosos corromperiam a região, conhecida como "vale dos deuses" porque muitas deidades hindus residiriam lá.

Uma proprietária de terra, Geeta Devi Katoch, disse que muitas pessoas ficaram irritadas quando souberam que os empreiteiros haviam comprado disfarçadamente alguns terrenos por um terço do preço. Ela disse que sua família, que cria vacas no morro, não venderia. "Esta terra é tudo o que temos", disse ela. "O que vamos fazer se vendermos?"

Em junho, o supremo tribunal de Himachal Pradesh deu a Sims seis meses para obter as autorizações ambientais.

Sims disse que sentiu que as probabilidades estão contra os estrangeiros. "É a era do barão ladrão", disse, acrescentando: "Só os fortes empresários indianos que sabem jogar o jogo podem ter êxito".

Neha Thirani colaborou com reportagem de Mumbai

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