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Análise

O custo de refrescar os trópicos

Com demanda por energia, é preciso ajustar expectativas

Por ELISABETH ROSENTHAL

Fato 1: Quase todas as cidades pujantes do mundo ficam nos trópicos, e elas abrigarão cerca de um bilhão de novos consumidores até 2025. Enquanto as temperaturas sobem, eles -e nós- vamos usar mais ar-condicionado.

Fato 2: Os aparelhos de ar-condicionado usam eletricidade em abundância e os resfriadores que eles contêm produzem emissões que aquecem o planeta.

Fato 3: Estudos mostram que a saúde e a produtividade aumentam de modo significativo quando a temperatura interna é resfriada em climas quentes.

Somando esses fatos, é difícil escapar: os seres humanos atuais provavelmente precisam de ar-condicionado para prosperar. Mas, se todos esses novos moradores das cidades usarem ar-condicionado como os americanos usam, a vida poderá se tornar uma série de grandes apagões, acompanhados por desastrosas emissões de gases do efeito estufa.

"É verdade que o ar-condicionado fez a economia acontecer em Cingapura e está fazendo isso em outras economias emergentes", disse Pawel Wargocki, um especialista em qualidade do ar em espaços fechados no Centro Internacional para Ambientes Internos e Energia, da Universidade Técnica da Dinamarca. Ele acrescentou: "O ritmo atual é muito perigoso".

Em 2007, somente 11% das residências no Brasil e 2% na Índia tinham ar-condicionado, comparadas com 87% nos Estados Unidos, onde o clima é mais temperado, disse Michael Sivak, professor na Universidade de Michigan. Ele estimou que, conforme mais pessoas podem pagar, as necessidades de resfriamento somente em Mumbai poderão ser equivalentes a um quarto das dos Estados Unidos inteiros, o que ele chama de "estatística assustadora".

Os blecautes maciços na Índia em julho foram quase certamente causados pelo aumento no uso de ar-condicionado e resfriamento, dizem os especialistas, mesmo que o culpado imediato fosse uma rede que não equilibrou adequadamente a oferta e a demanda.

"Resfriamento é a mania na Índia", disse Rajendra Shende, presidente do Centro de Políticas Terre, em Puna, na Índia.

Os cientistas estão trabalhando para inventar ar-condicionados mais eficientes e melhores gases resfriadores para minimizar o uso de eletricidade e as emissões. Mas até agora os avanços foram eclipsados pela crescente demanda.

Estudos de Shin-ichi Tanabe, da Universidade Waseda, em Tóquio, descobriram que os trabalhadores toleram bem uma iluminação mais fraca, mas cada grau a mais de temperatura acima de 25°C gera queda de 2% na produtividade. Em um dia isso significa 30 minutos a menos de trabalho, disse ele.

Outros estudos descobriram que as temperaturas nos escritórios entre 28°C e 30°C causam dor de cabeça, sonolência e dificuldade para se concentrar.

Pior, talvez, Tanabe calculou que quando os escritórios ficam acima de 28°C muitas pessoas usam ventiladores ineficientes em suas mesas, e o consumo total de eletricidade pode ser maior do que se o edifício fosse melhor resfriado. "Isso é burrice", disse ele.

Alguns estudos da quente e úmida Cingapura mostram que o trabalho melhora quando o termostato é baixado para 22°C. "É um problema enorme se tivermos de resfriar a esse nível prédios inteiros em ambientes tropicais", disse Wargocki, que é um pesquisador visitante na Universidade Nacional de Cingapura.

Mas um relatório da Iniciativa Global McKinsey prevê que um bilhão de moradores urbanos "vão entrar na classe consumidora global até 2025". E para a maioria deles o ar-condicionado provavelmente será uma das primeiras aquisições, já que quase todas as cidades com os maiores potenciais de necessidade de resfriamento, segundo a pesquisa de Sivak, ficam nos países em desenvolvimento, que têm clima quente.

Pesquisadores dizem que a melhor esperança é ajustar nossas expectativas e comportamento sobre o ar-condicionado.

"A temperatura que muitos americanos acham mais confortável em ambientes fechados no verão" -21°C- "parece desconfortável para a maioria dos europeus, que a consideram muito fria", disse Sivak, que sugeriu que a maior consciência ambiental da Europa poderá tornar as pessoas mais inclinadas a tolerar um pouco mais de calor no verão.

Infelizmente, muitos lugares tropicais parecem ter seguido o caminho dos EUA, disse Tanabe.

Mas, certamente, se eu mereço ter um ar-condicionado em Nova York, meu colega em Mumbai também merece.

Uma maneira de os arquitetos alcançarem um compromisso é construir com materiais que não absorvem calor ou bombear ar frio do subsolo profundo.

Wargocki disse que a União Europeia está obrigando as companhias a usar menos resfriamento. "Precisamos educar as pessoas de que há outras maneiras de ter conforto em vez de aumentar o ar-condicionado", disse ele.

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