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Um combustível mais limpo para cozinhar

Por ALICE RAWSTHORN

LONDRES - Quando Sanga Moses estava viajando para o vilarejo em Uganda onde vive sua mãe, ele avistou uma figura conhecida caminhando junto à estrada, carregando um grande feixe de lenha. Era sua irmã de 12 anos, que se queixou de ter de perder a escola para caminhar 18 km ida e volta até a cidade mais próxima para coletar lenha para cozinhar para a família.

Milhões de outros africanos, principalmente meninas, enfrentam a mesma luta. Sanga, hoje com 30 anos, estava tão preocupado que abandonou seu emprego de contador na capital de Uganda, em Kampala, e aplicou sua poupança de US$ 500 no desenvolvimento de uma fonte acessível de combustível barato e limpo para cozinhar.

Além de poupar tempo e dinheiro, ela promete reduzir a poluição produzida pela fumaça do combustível improvisado e os problemas de saúde causados por sua inalação, que são responsáveis pela morte de mais de 1,5 milhão de pessoas por ano.

Três anos depois, milhares de ugandenses estão cozinhando com um combustível orgânico produzido pela empresa que ele fundou, a Eco-Fuel Africa, e cerca de 1.500 agricultores estão aumentando sua renda usando seu equipamento para transformar dejetos agrícolas em carvão orgânico. Além de gerar renda para esses agricultores, o sistema criou empregos para centenas de pessoas na venda e distribuição de combustível e fertilizante. Também ajudou a reduzir o ritmo do desmatamento na África, pois hoje menos pessoas precisam coletar lenha para cozinhar.

Diferentemente de muitos outros empreendimentos humanitários, que foram iniciados por ocidentais na esperança de ajudar as pessoas nas economias em desenvolvimento, a Eco-Fuel Africa foi concebida por pessoas cujos amigos e parentes deverão se beneficiar dela.

"O problema que eu vejo na maioria das outras intervenções é que elas não envolvem as comunidades locais o suficiente e são iniciadas por estrangeiros que não compreendem os problemas locais", afirmou Sanga.

O comentarista de design americano Bruce Nussbaum resumiu o problema em uma postagem em um blog em 2010, intitulada: "O design humanitário é o novo imperialismo?"

Desde o início, Sanga estava decidido a desenvolver um sistema que se encaixasse nos métodos culinários existentes de seus clientes, em vez de forçá-los a adotar mudanças.

O sistema começa com os agricultores, que coletam dejetos orgânicos e os transformam em carvão em fornos oferecidos pela companhia. Eles guardam um pouco de carvão para fertilizar a terra e vendem o resto para a companhia. A Eco-Fuel Africa deduz o preço dos fornos de suas vendas de carvão. O carvão é então transformado em blocos de combustível por distribuidores locais que usam máquinas da Eco-Fuel Africa. Cerca de 110 distribuidores, na maioria mulheres, já empregam os jovens locais para fazer as entregas.

Sanga teve de vender a maior parte de seus pertences, inclusive a cama, para pagar pela produção do primeiro forno. A Eco-Fuel Africa lançou seus primeiros produtos em novembro de 2010, menos de dois anos depois que ele viu sua irmã carregando o feixe de lenha.

Sanga quer expandir o sistema, animado pela seleção da Eco-Fuel Africa como finalista no Desafio Buckminster Fuller 2012, que celebra projetos que abordam "os problemas mais prementes da humanidade". O objetivo é estabelecer 200 microfranquias no ano que vem.

E quanto mais sucesso tiver a empresa mais dinheiro ela vai gerar para outro dos projetos de Sanga: usar parte da receita de suas vendas para plantar árvores.

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