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Um ator ressurge sem medo

Por DENNIS LIM

VENEZA - Na última vez em que Joaquin Phoenix foi visto no Festival de Cinema de Veneza, em 2010, ele tinha iniciado meses antes uma suposta transição profissional -de ator a rapper- que coincidiu com ganho evidente de peso, um início de barba malcuidada e um amplamente notado comportamento público errático. Muito disso foi registrado no documentário "I'm Still Here", de Casey Affleck, amigo de Phoenix; mais tarde, foi revelado que tudo fora uma performance satírica.

Phoenix, 37, retornou a Veneza neste ano, agora de modo mais direto: como protagonista do filme mais aguardado do festival, "The Master", de Paul Thomas Anderson, e candidato favorito ao prêmio de melhor ator, num sinal animador neste início da temporada de premiações no cinema.

Antes da première em 1° de setembro de "The Master", o primeiro filme de Anderson desde "Sangue Negro" (2007), especulava-se que o filme pudesse ser uma denúncia da cientologia. Mas, embora seja inspirada na dianética e em L. Ron Hubbard, a história de uma nova religião marginal nos EUA do pós-guerra é apenas o pano de fundo para um estudo sobre a natureza animal do homem, a civilização e seus descontentamentos. Tudo isso é visto através do relacionamento entre um guru sedutor (Philip Seymour Hoffman) e um seguidor dotado de um lado selvagem, representado por Joaquin Phoenix em sua primeira aparição nas telas em dois anos, desde "I'm Still Here".

Phoenix disse que seu último filme, embora tivesse sido saudado por muitos com perplexidade ou hostilidade, representou uma virada importante. "Ampliou completamente minha visão da atuação", explicou ele. "Eu quis ter aquela mesma experiência de que tudo é possível."

Buscando reafirmar-se profissionalmente, ele leu muitos roteiros. O papel de Freddie Quell em "The Master" foi o primeiro que atraiu seu interesse. Problemático veterano da Segunda Guerra Mundial, Freddie é ao mesmo tempo o oposto selvagem e o improvável espírito irmão de Lancaster Dodd, o vendedor da salvação representado por Philip Seymour Hoffman.

Anderson disse que escreveu o papel de Dodd para Hoffman, seu colaborador regular. Para fazer Freddie, precisava de "um adversário à altura de Phil".

Tanto ele quanto Hoffman gostaram da ideia de trabalhar com Joaquin Phoenix. "Me lembro de Phil dizer 'Joaquin me assusta, de um jeito bom'", o diretor contou.

Joaquin Phoenix começou a atuar ainda jovem. Desde o filme que projetou seu nome, "Um Sonho Sem Limites", de Gus Van Sant, quando tinha 21 anos, ele emergiu da sombra de seu falecido irmão River. Recebeu duas indicações ao Oscar, pelo papel do vilão em "Gladiador" e o de Johnny Cash em "Johnny e June". Mas em nenhum de seus papéis anteriores ele chega perto do puro dinamismo físico que exibe em "The Master".

"Eu sabia que ele seria bom, mas não que ele ia fazer tudo isso", disse Anderson.

"I'm Still Here" inspirou o ator a fazer um experimento. "Subir num palco publicamente, sem saber como as pessoas vão reagir a você. A partir do momento em que vivi essa experiência, passei a me sentir mais à vontade", explicou.

O fato de ele confiar em seus instintos fez com que as primeiras tomadas muitas vezes fossem as mais eletrizantes. "Joaquin não é muito bom em falsificar emoções", disse Anderson. "Se aquele momento se perde, é difícil para ele trazê-lo de volta. Ficou claro para mim que era melhor ter a iluminação certa já na primeira tomada."

Phoenix falou de sua carreira rejuvenescida -seus próximos projetos são filmes com James Gray e Spike Jonze- como sendo o reencontro do desejo de se arriscar. "Para algumas pessoas, atuar é como fazer uma caminhada na praia ao anoitecer; para outros, é como escalar um penhasco ou atirar-se de um avião", comentou. "Passo boa parte de minha vida fazendo caminhadas na praia ao anoitecer. Quando atuo, gosto da ideia de me atirar de um avião."

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