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Um Picasso on-line por apenas US$ 450? É falso

Por PATRICIA COHEN

Você está à procura de pechinchas on-line? Quem sabe se interesse por um Rembrandt original por US$ 900 ("é possível ver a idade claramente pelo papel", atesta o vendedor da água-forte) ou um desenho a tinta de Matisse, assinado, por US$ 1.250.

A Sotheby's consegue mais de US$ 100 milhões por um Picasso num leilão. Mas pessoas que fazem compras na Web podem encontrar uma pintura "original" do mestre por US$ 450 -menos que um par de sapatos de grife.

Todos os dias, obras ditas "originais" e "autênticas" e atribuídas a gigantes do mundo das artes são oferecidas por galerias online e sites de leilão a preços imperdíveis. E todos os dias há pessoas que as compram.

O fato de esses trabalhos às vezes serem falsificações ou carregarem rótulos enganosos não surpreende especialistas em arte e fundações que monitoram as vendas de arte online. Para especialistas, a fraude já saturou alguns setores do mercado de arte.

"Em todo país onde vou, até mesmo em Abu Dhabi, sou procurada por artistas ou herdeiros de artistas desesperados com a situação das falsificações", contou Véronique Wiesenger, diretora e curadora sênior da Fundação Alberto e Annette Giacometti, em Paris. "Outro dia contamos 2.005 falsas esculturas de Giacometti à venda" em apenas um web site.

É claro que há muitos vendedores on-line de boa reputação que vendem exatamente o que anunciam. "Muitos negócios são feitos on-line e a maioria das pessoas está satisfeita", disse o consultor de arte Alan Bamberger.

Um estudo recente de estatísticos da Universidade George Washington em Washington e da Universidade da Califórnia em Irvine estimou que até 91% dos desenhos e esculturas pequenas vendidos através do eBay como sendo obras do artista Henry Moore são falsificados.

A Fundação Giacometti e os herdeiros de Picasso consideram tão grave o problema das vendas de falsificações que neste ano ajudaram a fundar uma nova associação, a União Internacional de Mestres Modernos e Contemporâneos, para promover proteções legais "contra a circulação de obras de arte falsificadas".

Obras de arte são vendidas legitimamente na internet numa gama grande de sites, incluindo os que são administrados por artistas individuais; por galerias já conhecidas que se ampliaram on-line e por galerias novas que representam o trabalho de artistas emergentes. De acordo com especialistas, com tantos empreendimentos legítimos vendendo arte na internet hoje, tornou-se mais fácil para empreendimentos menos respeitáveis vender trabalhos falsificados como legítimos.

Os casos mais comuns são de reproduções não autorizadas que violam o direito autoral do artista. Em outros casos, a reprodução foi autorizada, mas alguém acrescenta a assinatura do artista -forjada ou copiada- para converter um pôster barato em edição limitada "autografada".

E há as falsificações absolutas vendidas como se fossem trabalhos de um artista.

No mês passado, David Crespo, dono de uma galeria em Madison, Connecticut, foi acusado de vender falsos desenhos de Picasso que ele próprio comprou na internet anos antes como sendo verdadeiros. Crespo tinha pagado quase US$ 50 mil a um vendedor conhecido como Collectart4less por um conjunto de desenhos supostamente de Picasso.

Depois de descobrir que eram reproduções, Crespo vendeu vários dos desenhos por centenas de milhares de dólares, dizem promotores, fornecendo documentos falsos para atestar sua autenticidade e origem. Crespo se declarou inocente.

Obras de arte vendidas on-line frequentemente vêm com um "certificado de autenticidade" ou certificado de registro. Mas, segundo especialistas, esses documentos geralmente não significam grande coisa, a não ser que tenham sido assinados pelo artista ou seu revendedor autorizado.

Na Fundação Calder, em Nova York, navegar no eBay e outros sites em busca de arte falsificada é uma atividade diária. Várias galerias em diferentes lugares do mundo anunciam uma pequena escultura de elefante como uma edição limitada de Alexander Calder, mas o artista não tem nada a ver com a peça. "Esta é uma das coisas mais feias que já vi na vida", disse um neto do artista, Alexander S.C. Rower.

A porta-voz do eBay, Amanda Christine Miller, disse que a empresa não busca a origem de produtos vendidos no site, mas investiga queixas de falsificações.

Barry Werbin, advogado de Nova York que trabalha com obras de arte e cujo avô era marchand, diz que os clientes que compram arte on-line são imprudentes ao extremo. Comprar arte pessoalmente, com assessoria de especialistas, já é difícil o suficiente, disse ele. Mas as pessoas ouvem falar em achados surpreendentes em feiras informais ou assistem a séries de TV como "Antiques Roadshow" e acham que podem ter a mesma sorte on-line. "Todo o mundo fica entusiasmado, e como programa de TV, é ótimo, mas achados como esses são raríssimos", comentou ele.

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