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Um choque de realidade para as imagens retocadas

Quando surgiu a notícia de que Vladimir Putin pretendia pilotar um paraglide enquanto conduzia seis grous siberianos para seu hábitat de inverno, no início de setembro, os russos pareceram enlouquecer com o Photoshop. Imagens satíricas invadiram a internet, incluindo uma do presidente montado em um grou e outra dele sobre um tubarão.

O aumento da dissidência no último ano na Rússia provocou uma espécie de era de ouro do Photoshop, relatou o "Times", "uma forma que parece especialmente adequada aos jovens russos irônicos e estilosos que formam a maior parte dos manifestantes". E os jovens russos foram rápidos na reação às autoridades.

Quando editores trabalharam uma foto no site da Igreja Ortodoxa Russa do líder patriarca Kirill 2° para remover de seu pulso um relógio Breuguet que vale pelo menos US$ 30 mil, os blogueiros rapidamente descobriram o engodo e chamaram a igreja de hipócrita.

Efeitos com aerógrafos e fotomontagens há muito tempo servem como ferramentas ideológicas, e retocar imagens é comum nos ramos da moda e da publicidade. Mas a manipulação generalizada condicionou as pessoas a não esperar uma foto acurada, levando muitas a se cansar disso e desejar autenticidade.

O trabalho dos denunciantes poderá ficar mais fácil com uma nova extensão do Photoshop. A novata Fourandsix Technologies acaba de lançar o FourMatch, um software que pode determinar a probabilidade de uma imagem ter sido alterada. O produto se destina a profissionais, mas os fundadores dizem que eventualmente pode ser usado por consumidores como um filtro de realidade para imagens da web.

Os retoques se espalharam para todo tipo de fotografia. "Existe um impulso que eu vi nos últimos anos de melhorar a realidade", disse ao "Times" David Granger, editor da revista "Esquire".

Os céus são mais luminosos, a grama é mais verde e os carneiros mais brancos. Jill Greenberg, que fotografou carneiros para um artigo sobre sono para a revista Women's Health, disse ao "Times" que os animais eram cinza-amarelados. "Tivemos de fazer os carneiros parecerem de desenho animado, brancos", disse ela. "Nós temos certas ideias na mente e tudo é uma espécie de fantasia."

E essa fantasia levou Julia Bluhm, uma garota de 14 anos do Maine, a iniciar um abaixo-assinado em abril protestando contra imagens digitalmente modificadas de modelos nas revistas. Ela rapidamente conseguiu 25 mil assinaturas e sua petição levou os editores da revista Seventeen a prometer na edição de agosto que serão mais transparentes sobre as fotografias.

Os que apoiam a campanha temeram que a revista tivesse se desviado de sua "promessa de mostrar garotas de verdade, como realmente são". E, nos últimos meses, as celebridades vêm tentando fazer a mesma coisa, publicando fotos de si mesmas sem maquiagem. Em julho, Rihanna postou uma foto dela no Twitter sem maquiagem e com um rabo-de-cavalo. Lady Gaga, Kim Kardashian, a atriz Roseanne Barr e Snooki, de "Jersey Shore", recentemente publicaram fotos sem maquiagem.

Emilie Zaslow, uma professora-assistente na Universidade Pace em Nova York, disse ao "Times" que é um modo de as pessoas "imaginarem a celebridade como uma pessoa comum, autêntica e íntima com seus fãs".

Mas essa autenticidade pode ser tão fugaz quanto a próxima foto. Geralmente, as imagens se destinam a gerar publicidade, mesmo inconscientemente, disse ao "Times" Soroya Bacchus, uma psiquiatra de Los Angeles.

"Realmente toca algum sentido subjacente de narcisismo que passa como: 'Oh, veja como sou humilde'", disse ela. "É uma falsa sensação de humildade."

ANITA PATIL

Envie comentários para nytweekly@nytimes.com

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