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Ensaio

Para fazer sucesso, a sorte é determinante

ROBERT H. FRANK

Muitos conservadores celebram o sucesso no mercado como a consequência quase inevitável do talento e do esforço.

Os liberais, por outro lado, gostam de nos lembrar que mesmo pessoas talentosas e esforçadas passam por dificuldades.

É fácil ver por que cada lado desconfia da posição do outro.

Os conservadores temem que as pessoas, se incentivadas a verem a vida como uma loteria, possam simplesmente ficar sentadas esperando pelo melhor.

Os liberais acham que encorajar as pessoas a reivindicar uma parcela irreal de crédito por seu sucesso pode torná-las relutantes em ajudar aqueles que estão em uma situação mais vulnerável.

Ambas as preocupações têm implicações importantes para as políticas públicas, então seria bom sabermos mais sobre a real importância da sorte para o alcance do sucesso.

Experiências recentes sugerem que eventos casuais podem influenciar os resultados do mercado bem mais fortemente do que se pensava.

O sociólogo Duncan Watts, que conduziu algumas dessas experiências com os colegas Matthew Sagalnik e Peter Dodds, descreveu os resultados obtidos em seu livro "Everything Is Obvious (Once You Know the Answer)" [tudo é óbvio, depois que você sabe a resposta], lançado em 2011. Ele sugere que, embora o sucesso no mercado de fato dependa da qualidade de um produto, essa ligação é extremamente variável e incerta.

Os pesquisadores convidaram os participantes a visitarem um site experimental chamado Music Lab, que listava 48 gravações de bandas pouco conhecidas. Na versão de controle da experiência, os participantes poderiam baixar gratuitamente qualquer música, desde que concordassem em lhe dar uma nota. A nota média serviu como um critério objetivo para a qualidade de cada música.

Os pesquisadores então realizaram outras oito versões da experiência. Em todas elas, o Music Lab mostrava quantas vezes cada música foi baixada por outros usuários, e qual a sua nota média.

Isso produziu uma maior disparidade na avaliação das músicas e na quantidade de downloads. Em cada um dos oito grupos, as canções mais populares se tornaram ainda mais populares (e vice-versa) do que no grupo de controle.

A mais notável conclusão foi que se alguns dos primeiros ouvintes reprovavam a música, isso geralmente prenunciava o seu fracasso. Mas, se por acaso, os primeiros ouvintes gostassem dessa mesma música, ela geralmente acabava fazendo sucesso.

O fato de o destino de uma canção depender tanto do acaso não significa que o sucesso seja puramente questão de sorte. Bandas que não se esforçassem e que carecessem de um mínimo de talento já não conseguiriam, para começar, gravar músicas dignas de serem aceitas no site.

Os sociólogos mostraram como o retorno do público pode gerar um efeito aleatório e vital. E isso pode ser visto em várias outras situações: muitas vezes é difícil encontrar informações sobre a qualidade de um produto, então nos baseamos nas reações de quem já o experimentou. Quaisquer diferenças aleatórias nos primeiros retornos que recebemos tendem a ser amplificadas quando compartilhamos nossas reações com os outros.

Um sucesso inicial mesmo que não merecido alimenta mais sucesso, e um fracasso prematuro prenuncia mais fracasso. Em suma: o destino dos produtos em geral frequentemente exige uma enorme dose de sorte.

A pesquisa oferece uma importante lição de moral: pessoas que tiveram sucesso fariam bem em permanecer humildemente cientes da sua própria sorte.

Robert H. Frank é professor de economia na Escola Superior Johnson de Administração, da Universidade Cornell, em Ithaca (Estado de Nova York)

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