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Eleições nos EUA/ Tendências Mundiais

Imigrantes sem destino em Malta

POR SUZANNE DALEY

VALLETTA, Malta - Em uma noite recente, os imigrantes que estão vivendo nos contêineres de aço ao lado do aeroporto abandonado de Valletta começaram a preparação para a noite, arrastando seus colchões para fora para fugir do calor sufocante.

Alguns deles já vivem nesse "centro aberto" administrado pelo governo há vários anos. Outros chegaram há menos tempo. O que a maioria tem em comum é um sentimento de derrota.

"É muito ruim mesmo", comentou um somali que disse chamar-se Z. Mohamed. Ele fugiu da guerra em seu país, foi encarcerado na Líbia enquanto caminhava para o norte e agora está nesse complexo tenebroso, com banheiros coletivos. "Toda semana vou ao centro de empregos para procurar trabalho, mas não há nada."

Malta talvez seja o lugar em que ficam mais aparentes as consequências das normas de imigração da União Europeia, iguais para todos os países do bloco. O país é um arquipélago minúsculo no Mediterrâneo, entre a Líbia e a Itália, e tem a maior proporção de imigrantes per capita de todos os países da União Europeia.

Esse país densamente povoado, com 400 mil habitantes comprimidos em aproximadamente 316 quilômetros quadrados, tem pouco a oferecer aos imigrantes. Mas, pelas normas europeias, pelo fato de eles terem desembarcado primeiramente aqui, praticamente não têm outra saída senão permanecer.

Suas impressões digitais são registradas num banco de dados, como é feito com todos os imigrantes que chegam à União Europeia. Se conseguirem chegar à Europa continental, serão rapidamente enviados de volta a Malta.

Também a Grécia enfrenta dificuldades em função dessas normas. Milhares de imigrantes continuam a chegar às suas fronteiras. Mas, com uma crise financeira esmagadora, o país tem poucos recursos para dar assistência.

O número de imigrantes em Malta é menor, mas também é sua economia. Recentemente, chegaram do Mediterrâneo 168 novos imigrantes em dois barcos. As autoridades governamentais gemeram abertamente diante da perspectiva de mais imigrantes carentes de tudo.

"Para nós, 168 pessoas equivalem a milhares", explicou Alexander Tortell, diretor da Agência maltesa para o Bem-Estar dos Candidatos a Asilo.

Malta não possui recursos para deportar os imigrantes que não satisfazem os critérios para receber proteção humanitária. O país não possui a rede de representações consulares que seria necessária para negociar tratados de repatriação com vários países africanos, nem dinheiro para fretar voos para levar os imigrantes de volta a seus países. Por essa razão, o número de imigrantes continua a crescer: mais de 16 mil nos últimos dez anos.

Malta enfrenta críticas em função das condições em que os imigrantes vivem. As autoridades têm por praxe encarcerar todos os que chegam de barco, em alguns casos por até 18 meses. Um relatório recente da organização Human Rights Watch observou que até menores de idade estão sendo detidos.

Uma vez libertados, eles podem mudar-se para "centros abertos" como aquele em que Z. Mohamed está vivendo.

"São pessoas que já passaram por muito sofrimento -guerras, em alguns casos estupro", disse Katrine Camilleri, diretora do Serviço Jesuíta para Refugiados em Malta. "E para chegar aqui geralmente fazem uma viagem pavorosa em que algumas delas perdem maridos, esposas ou filhos. Poderíamos ser um pouco mais compreensivos."

Malta vem pedindo ajuda há vários anos, e a União Europeia ofereceu alguma ajuda. Várias centenas de refugiados foram transferidos para a Europa continental, e os EUA também ajudaram, recebendo mais de mil famílias nos últimos cinco anos. Mas Malta diz que precisa de mais assistência.

O país diz que as normas atuais da União Europeia, conhecidas como o Acordo de Dublin 2, são injustas. Elas foram redigidas muito tempo antes de Malta entrar para o bloco e tiveram por objetivo impedir imigrantes de sair em busca do país que fosse mais aberto às suas solicitações de asilo. Estão sendo discutidas possíveis alterações das regras.

Alguns imigrantes conseguem encontrar trabalho, mas, segundo as autoridades, eles são facilmente explorados.

Na cidade turística de Mellieha Bay, alguns imigrantes fazem trabalhos avulsos nas praias. Um deles era o somali Hass Mahamed Dalmar, 21, que tinha passado um ano detido. Como muitos outros rapazes, ele se alimenta nas barracas de fast food e dorme nas espreguiçadeiras. Às vezes recebe US$ 6,50 por dia, às vezes US$ 40. "Estamos aqui à procura de uma vida", disse.

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