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Ensaio

PEGGY KLAUS

Ultimamente tenho ouvido falar muito sobre jovens de 20 e poucos anos que adoram contar tudo no trabalho, sejam suas façanhas quando embriagados ou sua procura por outros empregos, a tendência a oferecer informação em excesso está deixando muitas chefias confusas. Uma gerente de recursos humanos me disse que vários jovens da empresa já tinham lhe perguntado quantas vezes poderiam faltar antes que ela os demitisse. E um diretor que perguntou a um subalterno direto como ele estava ouviu: "Bem, não faço sexo há cinco anos, então acho que não estou indo muito bem".

Como membro da geração "baby boom", não me lembro de alguma vez em que saí de uma conversa com alguém da minha idade ou mesmo uma ou duas décadas mais novo e tenha pensado: "Puxa, ele realmente disse isso?".

No entanto, vejo isso acontecer principalmente com jovens que parecem ter perdido todo o senso de limite e de decoro.

E parece que o problema já começa a atravessa gerações: ao cumprimentar uma colega que havia se tornado avó, um executivo-chefe recebeu um relato detalhado sobre os problemas do parto da filha dela, desde a progressiva expansão do colo do útero até o processamento da placenta.

Por que as pessoas estão compartilhando informações pessoais em excesso? Uma explicação é que esse fenômeno é uma continuação do comportamento on-line. As mídias sociais tornaram comum expor tudo para todo mundo. O problema é que as pessoas estão esquecendo onde estão (no trabalho, e não em um bar ou em uma sala de bate-papo) e com quem estão falando (chefes, clientes, colegas, e não seus amigos).

Muitas pessoas culpam os pais "baby boomers" por eles terem criado filhos com uma autoestima exagerada, que acreditam que tudo o que dizem ou pensam deve ser compartilhado. Quando eu disse a um colega britânico que muitos americanos começam a perceber que revelam demais sobre si mesmos, ele deu uma gargalhada e disse: "Finalmente!".

Outros atribuem o problema à necessidade de conexão com outras pessoas. O local de trabalho se tornou nossa segunda casa, o lugar onde passamos a maior parte de nosso tempo, o que muitas vezes leva ao excesso de comunicação pessoal. Dessa forma, esquecemos que é necessário manter um certo nível de profissionalismo nesse ambiente.

Não estou dizendo que devemos parar de conversar sobre assuntos que não se relacionem ao trabalho, mas acho que algumas regras nos ajudarão a controlar nosso distúrbio de compartilhamento obsessivo. Antes de abrir a boca sobre sua vida pessoal, pergunte a si mesmo(a): O que vou dizer beneficia minha carreira ou a qualidade de meus relacionamentos profissionais?

Não acho que eu seja uma exceção. Os chefes de 40, 50 e até 60 anos -e ainda há muitos deles- provavelmente sentem a mesma coisa. Decência, bom senso e simplesmente boa educação nunca saem de moda. Mas, se saírem, espero que eu já esteja aposentada.

Peggy Klaus é escritora, consultora de executivos e líder de programas de treinamento corporativo

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