Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Candidatos não tão distantes

O estilo gerencial de Romney

A personalidade gerencial de Romney

Stephen Crowley/The New York Times
Pessoas que trabalham com Mitt Romney dizem que o republicano sabe motivar as pessoas
Pessoas que trabalham com Mitt Romney dizem que o republicano sabe motivar as pessoas

Por MICHAEL BARBARO, SHERYL GAY STOLBERG e MICHAEL WINES

BOSTON - Quando era governador do Massachusetts, Mitt Romney fez o exame aplicado aos alunos de ensino médio do Estado e surpreendeu o comissário de educação ao lhe telefonar para dizer que gostava da pergunta 14, dando a resposta em seguida.

Quando presidiu a empresa de "private equity" (compra de participação em empresas) Bain Capital, ele ficava tão incomodado em demitir funcionários, que uma lenda nasceu: executivos enviados para sua sala para serem demitidos saíam dela achando que tinham sido promovidos.

Como candidato à Presidência, neste ano, Romney resistiu às pressões de seus assessores para escolher um colega de chapa antes de uma viagem para o exterior, insistindo que ele toma decisões melhores quando tem tempo para refletir sobre elas.

A candidatura de Romney à Casa Branca depende em grande parte do retrato que ele pinta de si mesmo: alguém especializado em analisar dados, cortar custos e promover viradas. Mas entrevistas com pessoas que trabalharam para ele nos últimos 30 anos traçam um retrato mais nuançado do estilo gerencial que ele pode imprimir à Presidência.

O candidato republicano se guia por teorias de administração, não por instintos. Ele não é tanto um microadministrador quanto um microprocessador, confiando responsabilidades a assessores, mas monitorando-os estreitamente.

Sua abordagem ecoa e difere da de presidentes norte-americanos do passado. Seu estilo de envolver-se diretamente em tudo o diferencia de George W. Bush, que se descrevia como o presidente do conselho, e de Ronald Reagan, que só se interessava pelo quadro maior. Sua tendência a mergulhar nos detalhes lembra Lyndon B. Johnson, que se reunia com altos funcionários do Pentágono para escolher alvos a serem atacados pelos aviões bombardeiros norte-americanos durante a Guerra do Vietnã. Sua paixão por dominar o processo de definição de políticas e tomada de decisões evoca o homem cujo lugar ele quer tomar, Barack Obama.

O estilo de cada presidente se reproduz em toda sua administração. "Tudo flui a partir do Salão Oval", disse Mack McLarty, o chefe de gabinete de Bill Clinton em seu primeiro mandato. "Todos se adaptam a isso."

Mitt Romney já demonstrou talento para recrutar equipes formadas por integrantes díspares (atraindo executivos de alto nível para trabalhar no governo estadual), moldando uma cultura de trabalho a partir do zero (como fundador da Bain Capital) e determinando prioridades (como chefe da Olimpíada de Inverno de Salt Lake City, em 2002, ele redigiu e distribuiu uma lista de princípios norteadores aos funcionários).

"Parte da experiência de Romney provavelmente lhe seria útil na Presidência", opinou o historiador presidencial Robert Dallek. "Mas, se ele pensa que isso vai se traduzir facilmente no Salão Oval, acho que terá uma surpresa."

Colegas de todas as fases de sua carreira disseram que Romney odeia demitir pessoas com quem trabalha estreitamente e que ele faz praticamente qualquer coisa para evitar essa situação. É algo que inspirou lealdade profunda entre alguns, ao mesmo tempo em que levantou dúvidas quanto à sua capacidade de tomar decisões difíceis sobre assunto pessoais, algo que presidentes invariavelmente são obrigados a fazer.

A imagem de Romney de implacável investidor hostil, que gostava de poder demitir aqueles que lhe prestavam serviços, como ele próprio disse certa vez, se deve quase inteiramente a seu papel na Bain Capital, onde comprava e vendia companhias cujos funcionários ele nunca chegava a conhecer.

Fraser Bullock, que foi o assessor olímpico de Romney, disse que a relutância de seu então chefe em demitir pessoas se devia à preocupação com o que seria feito delas. "Ele personaliza a situação, pelo que eu pude ver. Ele diz 'o que vai acontecer com essa pessoa? Ela vai conseguir encontrar outro emprego?'."

Mas Romney demitiu funcionários, sim. Como governador, demitiu vários empregados cujos atos prejudicaram sua administração. "No governo estadual, minha observação foi que o governador tinha baixo nível de tolerância por pessoas que tinham desempenho insuficiente e que ele não relutava em cobrá-las", falou Eric Fehrnstrom, diretor de comunicações de Romney no governo do Massachussets e hoje assessor de sua campanha.

Como chefe, Romney fazia muitos gestos amigáveis. Na Bain Capital, ele instituiu a regra de que toda reunião deveria começar com uma piada. Na sede olímpica em Salt Lake City, um dia ele apareceu munido de avental e frigideira para surpreender sua equipe, preparando panquecas para o café de todos.

Funcionários disseram que ele parecia intuitivamente entender como motivar pessoas que trabalhavam muitas horas em cargos estressantes. Ele pagava bônus generosos. Mas, além disso, percorria os corredores, cubículos e salas perguntando no que as pessoas estavam trabalhando e avaliando o clima geral. "Ele dizia, por exemplo, 'as pessoas não estão sorrindo o suficiente'", recordou Cindy Gillespie, que trabalhou com ele na Olimpíada e no governo estadual.

Algumas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos, Romney estrelou uma apresentação de "Romeu e Julieta" no escritório, fazendo o papel de Romeu, enquanto Julieta era um colega vestido de mulher. Não houve beijo, mas Romney improvisou algumas falas: "Julieta, você é feia de doer e está precisando fazer a barba". "As pessoas caíram na gargalhada", disse Gillespie.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.