Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Empresas do Vale do Silício dão benefícios domésticos

O objetivo é dar "tempo e paz" aos empregados

Por MATT RICHTEL

A faxina do apartamento de Andrew Sinkov passou a ser uma responsabilidade da empresa onde ele trabalha, a Evernote, que oferece um serviço de anotações digitais. Atualmente, 250 empregados da Evernote -todos os funcionários em tempo integral, da recepcionista ao executivo-chefe- têm suas casas limpas duas vezes por mês, gratuitamente.

É a mais recente inovação do Vale do Silício: o benefício trabalhista está se deslocando do escritório para a casa. No Facebook, quem ganha bebê recebe US$ 4.000 para despesas. A Genentech oferece jantar para viagem. Na consultoria Deloitte, funcionários com pais idosos podem, quando necessário, solicitar o auxílio de um cuidador.

Esses benefícios servem para reduzir não só o estresse dos empregados, mas também o das suas famílias. A ideia é que, se a empresa conseguir isso, irá reduzir as distrações e fontes de tensão que podem inibir a concentração e a criatividade do funcionário.

Existe, é claro, a possibilidade de que, poupando as pessoas de tarefas domésticas, as empresas estejam simplesmente liberando-as para trabalhar mais. Mas David Lewin, professor de administração da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, acredita que essas regalias fazem parte de um crescente esforço das empresas para recompensar as pessoas dando-lhes "tempo e paz de espírito".

Especialistas acreditam que esses benefícios devem se espalhar. "O local de trabalho foi construído sob a premissa de que havia alguém em casa lidando com a frente doméstica", disse a experiente executiva de RH Anne Weisberg. "Há uma maior conscientização de que estamos empurrando as coisas até o limite do que é possível."

A cardiologista Hannah Valantine, diretora-associada da Escola de Medicina de Stanford, disse que a experiência da universidade em ajudar nos trabalhos domésticos -oferendo faxina e jantar para viagem -foi parte de um esforço mais amplo para auxiliar os médicos, que possuem um ritmo de vida frenético.

Alguns especialistas em compensações argumentam que esse tipo de benefício pode ofuscar problemas mais fundamentais em empresas que enfrentam dificuldades para reter talentos.

Esse é um desafio do qual Stanford está ciente, dada a fuga de cérebros sofrida pelos hospitais universitários, onde é preciso atender pacientes, correr atrás de verbas e fazer pesquisas.

Por isso, há 18 meses, Stanford contratou uma consultoria chamada Jump Associates para melhor compreender por que tantos médicos acadêmicos se sentiam esgotados.

Numa entrevista, uma médica no oitavo mês de gravidez disse aos pesquisadores que estava se comprometendo com mais plantões do que nunca. O motivo? Embora ela não precisasse fazer o trabalho adicional, ela queria ter a consciência limpa quando tirasse alguns meses de licença para cuidar do bebê.

Valantine disse ter concluído que, em vez de buscar o "equilíbrio" entre trabalho e vida pessoal, é preciso pensar em termos de "integração" entre as duas coisas.

Essa nova mentalidade é cada vez mais comum, segundo outros médicos, acadêmicos que estudam os hábitos de trabalho e funcionários do Vale do Silício, categoria geralmente bem recompensada, que inclui gente como Sinkov, 31, vice-presidente de marketing da Evernote.

"A ideia de que é preciso segmentar trabalho e vida se baseia em alguma coisa arcaica do calendário lunar", disse Sinkov.

O Google, que já oferecia refeições grátis e limpeza a seco na sua sede, agora dá US$ 500 para aos empregados que acabaram de ter um filho. A empresa também recebe peixe fresco no escritório, que os empregados podem levar para casa.

Segundo Jordan Newman, porta-voz do Google, "benefícios são dados aos funcionários, como comida grátis, no intuito de pensar os indivíduos e sua saúde de uma forma mais holística".

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.