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Mianmar busca parcerias com Japão

Por THOMAS FULLER

YANGON, Mianmar - Em uma rua no centro de Yangon, os últimos momentos da vida de Kenji Nagai foram captados em uma fotografia que exemplificou a brutalidade do regime militar em Mianmar. Nagai, um jornalista japonês, foi morto a tiros cinco anos atrás durante uma repressão a protestos. Sua morte foi um ponto baixo nas relações entre Mianmar e o Japão.

Hoje, enquanto Mianmar busca se livrar de seu passado autoritário, uma imagem muito diferente está surgindo.

O Japão expande rapidamente sua presença no país, estabelecendo parcerias com o governo e investindo no território, o que desafia a posição dominante da China em Mianmar.

Na prefeitura, duas dúzias de engenheiros japoneses traçam um plano para reconstruir as estradas, as redes de telefone e internet e os sistemas de água e esgoto de Yangon, a capital comercial do país, há muito negligenciada.

"Mianmar está dizendo: 'Bem-vindos! Por favor, nos ajudem'", disse Ichiro Maruyama, o vice-chefe da missão na embaixada japonesa em Yangon.

O presidente U Thein Sein está terceirizando para os japoneses partes cruciais de seu esforço para desenvolver o país.

Além da reforma de Yangon, um consórcio japonês foi convidado para construir uma grande zona industrial e uma cidade-satélite nos arredores.

Ao escolher o Japão para esses projetos, Mianmar fez do país uma espécie de campo de batalha entre os dois titãs econômicos da Ásia -China e Japão.

O Japão está ansioso para aproveitar a mão de obra barata de Mianmar e ampliar sua extensa rede de fábricas na região, que inclui Tailândia, Vietnã, Laos e Camboja.

A China está mais concentrada em extrair recursos naturais de Mianmar, assim como em gerar eletricidade em suas barragens hidrelétricas.

A impressão de que a China está roubando do país esses recursos causou reações, incluindo protestos recentes contra uma mina de cobre perto da cidade central de Monywa e a suspensão, no ano passado, da hidrelétrica de Myitsone.

O governo japonês diz que está disposto a emprestar dinheiro a Mianmar com empréstimos com juros abaixo de 1%, pagáveis durante 50 anos, sem pagamentos nos primeiros dez anos.

Yohei Sasakawa, presidente da Fundação Nippon, uma instituição japonesa que ajuda áreas de Mianmar onde vivem minorias étnicas pobres, diz que o governo está muito consciente de que a população vai querer um "dividendo democrático" que inclua benefícios tangíveis da transição, afastando-se do regime militar.

Os investidores japoneses têm um trabalho duro pela frente. Grande parte da infraestrutura da cidade foi construída durante a época colonial britânica, que terminou em 1948. Os trens percorrem ferrovias construídas pelos britânicos, cujas juntas estão enferrujadas. O sistema de esgotos, que está dilapidado, cobre apenas a área central.

O governo japonês também estuda sistemas de transporte de massa, a reabilitação de quatro usinas de energia que fornecem eletricidade para Yangon e o acréscimo de seis diques no porto perto de Yangon, que servirá para a zona industrial.

Enquanto o interesse do Japão por Mianmar é parcialmente estratégico, para alguns japoneses mais velhos o reengajamento cimenta um antigo relacionamento entre os dois países.

A ocupação japonesa em Mianmar, então conhecido como Birmânia, durante a Segunda Guerra Mundial, foi brutal.

Para Sasakawa, da Fundação Nippon, ajudar Mianmar também é um assunto pessoal. Ele lembra que comia arroz enviado pela Birmânia nos anos magros depois da Segunda Guerra. "Estamos pagando nossa obrigação."

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