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Bancos espanhóis cortam preços de casas

Há mais de 1,2 milhão de casas novas à venda

Por SUZANNE DALEY

CANET DE BERENGUER, Espanha - Durante anos, o condomínio de apartamentos Mar de Canet, ao sul de Barcelona, ficou vazio. Ele era mais uma vítima da quebradeira imobiliária que deixou o país cheio de cidades fantasmas e empreendimentos semiacabados.

No entanto, nas últimas semanas, a piscina do Mar de Canet ficou cheia de crianças, e toalhas de praia coloridas tremulavam em quase todas as sacadas.

As 308 unidades do condomínio foram vendidas em menos de 30 dias nos últimos meses, a maioria para espanhóis que finalmente conseguiam um negócio irresistível: belas residências de férias por menos da metade do preço normal.

Isso acontece porque os bancos, que estão sentados sobre uma pilha de ativos imobiliários, diminuiram o preço dos imóveis, ansiosos para sair desse tipo de investimento. Alguns especialistas temem que eles estejam simplesmente repetindo erros do passado ao oferecer novamente hipotecas de 100%.

O país tem mais de 1,2 milhão de casas novas à venda e está longe de colocar suas finanças em ordem. Mas os espanhóis não perderam a paixão por comprar propriedades.

Tanta gente apareceu no primeiro dia em que os apartamentos de Canet foram postos à venda, que Jesús Martínez e sua mulher, que estavam trabalhando, telefonaram para seus pais correrem e fazerem uma proposta por eles. O casal comprou uma unidade de dois quartos com terraço por US$ 92 mil.

Muitos especialistas veem as pechinchas como o início do que provavelmente será um longo destrinchar dos excessos imobiliários da Espanha. Durante a fase dourada da construção, os bancos emprestaram liberalmente para empreiteiras e proprietários de residências e acabaram com bilhões em empréstimos ruins quando a crise econômica eclodiu em 2008.

Mesmo depois de diversas auditorias, muitos especialistas dizem que a verdadeira extensão dos empréstimos ruins ainda não está clara, e a recessão continua aumentando. O Banco da Espanha disse, em setembro, que 9,9% dos empréstimos bancários do país estavam em atraso, contra 9,4% no mês anterior.

Nos últimos meses, muitos bancos foram obrigados a cancelar prejuízos, abrindo caminho para vendas com desconto.

Perto de Madri, Seseña, uma das mais famosas cidades fantasmas do país, ficou virtualmente vazia desde a crise de 2008. Alguns meses atrás, o Santander, que possuía 500 unidades, começou a cortar os preços. Em janeiro, o banco anunciava as unidades restantes por um terço do preço original.

"Este é o ano em que a realidade se instala", disse Fernando Encinar, um dos donos da empresa imobiliária Idealista.com. "A boa notícia é que há uma forte demanda por preços baixos."

Nem todos consideram a onda de descontos algo bom. Alguns acreditam que os bancos rumam para novos problemas enquanto tentam vender propriedades rapidamente por baixo preço. Eles dizem que os bancos oferecem hipotecas fáceis para os clientes, sem levar em conta sua situação financeira.

As autoridades bancárias, porém, dizem que estão mais cuidadosas sobre seus mutuários.

"Mesmo que nem todos paguem", diz Carlos Bode Vallespín, diretor da divisão imobiliária do Banco Sabadell, "muitos pagarão. Eles pagarão os impostos e manterão o ativo."

Ainda há espanhóis dispostos a investir em imóveis, incluindo os que consideram essa uma maneira de proteger seu dinheiro.

Rafael Valderrábano, do site Basicohomes.com, disse: "Os muito ricos tiraram seu dinheiro do país, mas as pessoas comuns ainda sentem que os imóveis são um investimento seguro".

Colaborou Rachel Chaundler

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