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Artista contemporâneo foge de circuito comum

O artista destruiu obras antigas para fazer outras

Por TED LOOS

NOVA YORK - Às vezes, Daniel Brush parece ser um pouco do contra: em geral, prefere não fazer nenhuma das coisas que um artista contemporâneo costuma fazer.

Brush, 65, produz arte há mais de quatro décadas, mas não tem um marchand nem nunca teve. Os colecionadores às vezes o procuram, mas, em geral, ele não vende o que produz porque exige uma conexão pessoal e a sensação de que os compradores cuidarão zelosamente de sua arte. Ele nunca aceitou uma encomenda.

Brush não faz o circuito de galerias e festas. Às vezes, se passam meses ou até anos em que ele quase não sai de seu enorme loft em Nova York, que é cheio de equipamentos (há uma prensa do século 18, maçaricos, lixadeiras etc.) que ele usa para fazer pequenos objetos elaborados e preciosos como "Onda" (1993-96). Uma escultura de aço do tamanho de um smartphone, ela tem um lado inferior de ouro puro que projeta um halo quente no que estiver atrás ou embaixo.

Nos anos 1970, depois de uma exposição individual de suas pinturas abstratas na Phillips Collection em Washington, DC, quando ele tinha 20 e poucos anos, Brush passou a vender muitas obras, mas a popularidade não combinava com ele.

"Eu fiquei tão nervoso que comprei todas as coisas de volta das pessoas e destruí todo o trabalho", lembra.

Recentemente, quando um dos museus mais prestigiosos do mundo (ele não revela qual) quis adquirir sua obra, ele recusou. "Não queria que ela ficasse enterrada no porão", disse.

Mas, mudando de atitude, Brush aceitou sua primeira grande retrospectiva, "Daniel Brush: Blue Steel Gold Light" [Daniel Brush: aço azul luz dourada], que estreou em 16 de outubro e vai até 17 de fevereiro no Museu de Artes e Design de Nova York.

A exposição inclui "Onda". Também está lá sua joalheria heterodoxa -que não é feita para ser usada-, que inclui um camelo incrustado de diamantes do tamanho de um broche e borboletas feitas de ouro.

"Eu escrevo em aço e escrevo em tela e papel", disse. "Escrevo sobre o que tenho pensado por todos esses anos. E quando a pressão se torna demasiada, faço objetos e joias."

François Curiel, presidente da seção Ásia da casa de leilões Christie's e especialista em joias, é um antigo admirador de Brush.

"Em termos de eficiência técnica, em uma escala até 10, ele é 11", disse Curiel.

"A coisa mais parecida com o trabalho de Brush, embora não seja seu estilo, é um ovo de Fabergé."

O interesse de Brush pelo trabalho em metal e as artes decorativas começou cedo. "Eu sabia desenhar muito bem o brasão do Museu de Arte de Cleveland", disse sobre as aulas que teve quando morava em Ohio.

Depois que rejeitou suas primeiras pinturas como indignas, Brush foi para Nova York com sua mulher em 1978. Começou a trabalhar em ouro e outros metais e não saía muito. "Fechei a porta durante uma década", disse. "Ninguém via o trabalho."

Grande parte dele não chegou a se materializar -ele fundiu muitas das primeiras peças e recomeçou. Em 1998, seu círculo mais íntimo de fãs se ampliou um pouco, quando foi publicado um livro sobre seu trabalho e houve uma exposição simultânea de suas peças de ouro na Galeria Renwick, parte do Museu Smithsoniano de Arte Americana, em Washington. Mas a mostra no Museu de Artes e Design é sua maior retrospectiva até hoje.

Brush, porém, disse que a exposição não o fará mudar de método ou de estilo de vida tão cedo. Seu conselho para os jovens artistas que querem fazer um bom trabalho é um só: "Fiquem em casa".

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