Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

DiCaprio desafia convenções

Por BROOKS BARNES
LOS ANGELES - Para transformar-se em um J. Edgar Hoover velho, Leonardo DiCaprio ficou sentado durante horas, enquanto maquiadores lhe faziam manchas na pele, dentes amarelados e uma barriga grande. Ele passa boa parte do filme "J. Edgar", de Clint Eastwood, com essa aparência.
Ele decorou intermináveis monólogos acelerados. Precisou lutar com um homem e depois beijá-lo. Teve que usar vestido.
Leonardo DiCaprio se especializou em escolhas profissionais de alto risco. E, por alguma razão, elas vêm dando certo, sempre.
"Quando não consigo definir o personagem imediatamente, e há algo de misterioso nele e ainda resta muito a ser explorado, é que eu aceito", disse DiCaprio. "Gosto de personagem complicado."
Hollywood geralmente não aprecia essa resposta. "A máquina gosta de colocar os atores em caixinhas", disse Brian Grazer, produtor de "J. Edgar". O filme seria lançado em 9 de novembro nos Estados Unidos e em todo o mundo nos próximos meses. "Quando eles fazem sucesso em um papel, a ideia é colocá-los em um filme depois do outro em que possam continuar a fazer exatamente a mesma coisa." Ele acrescentou: "A maioria das pessoas tem medo de não fazer isso".
Uma coisa que provavelmente ajuda DiCaprio, 36 anos, é o fato de que ele consegue manter uma aura de mistério em torno de sua vida pessoal. Ele se esforça para manter a reserva. DiCaprio tem sua versão própria de não mexer em algo que está funcionando.
Os personagens que representa geralmente são grandiosos, atormentados e pouco agradáveis: Howard Hughes em "O Aviador", coletando sua própria urina. Um contrabandista zimbabuano em "Diamante de Sangue". Um paciente com problemas mentais em "Ilha do Medo". Um extrator de sonhos em "A Origem".
"Leonardo poderia ganhar muito dinheiro fazendo filmes mecânicos de gênero, mas ele quer se sentir desafiado", disse Clint Eastwood pelo telefone. "E é um desafio muito maior representar alguém que não tem nada em comum com você."
O próximo papel de DiCaprio será o papel-título no remake dirigido por Baz Luhrmann de "O Grande Gatsby", e depois disso ele fará Frank Sinatra numa cinebiografia dirigida por Scorsese. "Sempre estou incrivelmente disposto a fazer qualquer coisa que ele decida fazer", falou o ator sobre Scorsese, que já o dirigiu em vários filmes.
Em "J. Edgar", Hoover aparece como um patriota brilhante que inventou a ciência forense moderna e não hesitou diante de nada para proteger a América, ao longo de oito presidentes e três guerras. Mas o onipresente diretor do FBI foi um impedimento ao movimento pelos direitos civis e trabalhou tão arduamente para distorcer a verdade quanto para descobri-la, no intuito de garantir seu poder.
Hoover foi homossexual? Ninguém sabe ao certo. Sabe-se menos ainda se ele de fato gostava de usar roupas femininas, mas Eastwood manteve no filme uma menção a esse rumor.
Algumas pessoas em Hollywood temem que, se Leonardo DiCaprio não assumir papéis mais diferentes, o público o ache chato.
Será que ele não teme encerrar-se em um tipo só, de tanto esforçar-se para não ser enquadrado? "Nunca. Não", respondeu o ator.
DiCaprio já recebeu três indicações ao Oscar: por "Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador", que fez quando tinha 19 anos, "O Aviador" e "Diamante de Sangue".
Ele se iluminou ao falar de filmes e pessoas que o influenciaram, como o "Crepúsculo dos Deuses" ("Sunset Boulevard"), de Billy Wilder. Mas perguntas pessoais não são apreciadas. Por que ele namora supermodelos?"
"Nunca falei sobre esse tipo de coisa, e, respeitosamente, vou continuar sem falar", respondeu.
DiCaprio prefere falar sobre "J. Edgar", especialmente sobre a maquiagem prostética. Ele estima que passou duas semanas das filmagens, que duraram 39 dias, representando o "Hoover velho", o que lhe exigia passar até cinco horas por dia na cadeira de maquiagem. "É muito difícil se conservar mergulhado no personagem e resistir à tentação de arrancar tudo", falou. "Era como se eu tivesse sido pintado com mel e envolvido num grande acolchoado."
Para poder mergulhar no papel de Hoover, DiCaprio fez meses de pesquisas. "A pesquisa para papéis como esses é metade diversão e metade dificuldade."
Dustin Lance Black, autor do roteiro de "J. Edgar", disse DiCaprio encontrou filmes com J. Edgar Hoover, jovem, fazendo discursos. "Naquela época, Hoover incluía em seus discursos muitas alusões a animais viscosos e escorregadios", contou. "Leo adorava!'."
Black também se lembra da preferência de DiCaprio por "cupcakes" de chocolate alemães. "Alguns dos quilos a mais no Hoover não eram falsos", disse. "Leo engordou um pouquinho."
Ainda não está claro se "J. Edgar" fará sucesso, mas DiCaprio tem um seguro eterno no "Titanic", de 1997. Ele disse que já se conformou a ser associado ao bobinho Jack Dawson. "Já estive na Amazônia e lá pessoas que andam sem roupa conhecem o filme. Já me conformei."

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.