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Edward Rothstein resenha de exposição

Os manuscritos do Mar Morto e o antes

Poucos artefatos da nova e provocante exposição "Os Manuscritos do Mar Morto: a Vida e a Fé nos Tempos Bíblicos", no Discovery Times Square, em Nova York, vão inspirar assombro ou grande apreciação estética. Cerâmicas, moedas de prata, pontas de flecha de ferro, jarros de calcário, pedaços de pergaminho -são estes os frutos aparentemente mundanos de muitas escavações arqueológicas, e eles prevalecem também aqui.
Alguns esforços são feitos para criar uma experiência espetacular, como quando um ator recebe você e o conduz para uma galeria que mostra cenas assombrosas do Mar Morto, ou quando você desce uma escadaria e vê dez fragmentos dos pergaminhos dispostos de modo dramático numa rotunda. Mas as atrações reais não são essas. Elas não estão nos objetos, mas nas conexões entre eles.
Os artefatos são frutos de explorações arqueológicas feitas pela Autoridade de Antiguidades de Israel. Alguns foram encontrados recentemente; alguns estão sendo expostos pela primeira vez. Esta seria uma das maiores exposições deste tipo jamais organizada. Mas o que a exposição tem de mais interessante é seu arco histórico.
A narrativa trata os manuscritos não como o início de uma história, mas como seu momento culminante. É quase o inverso do tratamento que é dado a eles mais comumente. Desde que os primeiros rolos de pergaminho foram encontrados por beduínos em cavernas do Mar Morto, em 1947, os manuscritos já inspiraram discussões e dramas extraordinários.
Antes da descoberta deles, os primeiros textos conhecidos da Bíblia hebraica foram de mais ou menos mil anos depois de estes manuscritos terem sido escritos. Nas cavernas havia mais de 800 fragmentos de pergaminho, escritos durante um período de agitação de 200 anos durante o qual a religião israelita estava prestes a ser atingida pelo exílio, em 70 d.C., ao mesmo tempo em que o cristianismo estava emergindo.
As escavações de um sítio próximo às cavernas, Qumran, sugerem que uma comunidade religiosa viveu no local durante o período em que os textos foram escritos, possivelmente no século 1 d.C. Uma hipótese sobre Qumran é que seus habitantes teriam sido essênios ou protocristãos e que manuscritos descrevem os primórdios daquela nova religião, evidente no messianismo e nas referências ao "Filho de Deus". Essa visão virou a ortodoxia, e um grupo pequeno de estudiosos conservou o controle sobre muitos dos rolos de texto por quase 40 anos.
Nas duas últimas décadas, porém, o debate se diversificou, na medida em que os manuscritos foram disponibilizados. As hipóteses se multiplicam. O que foi Qumran -uma fortaleza? Um local de produção de cerâmicas? Repositório da biblioteca do templo de Jerusalém? Os textos foram escritos por escribas de Qumran?
A exposição evita tirar conclusões. Em lugar disso, se encerra com uma espécie de ecumenismo, aludindo a como o judaísmo e cristianismo evoluíram a partir dos textos de Israel antiga e como o islã surgiu dessas narrativas.
Mas a exposição, como um todo, se concentra mais no passado dos manuscritos. Vemos os textos apenas depois de percorrermos uma linha do tempo dos momentos marcantes da região, ilustrada por descobertas arqueológicas que fazem parte do acervo dos Tesouros Nacionais de Israel. Os manuscritos são apresentados não apenas como parte da história religiosa, mas parte da história nacional.
Existe uma razão pela qual a exposição, que ficará até 15 de abril, traça um paralelo entre o fervor devocional da comunidade de Qumran (destruída pelos romanos em 68 d.C.) e o fanatismo religioso dos rebeldes resistentes em Massada, um assentamento em penhascos que se ergue sobre o Mar Morto (destruído pelos romanos em 73 d.C.). Os objetos expostos das duas comunidades incluem cerâmica, sementes e frutas secas. Há cordas de Qumran e têxteis de lã de Massada.
O ponto fraco é que não compreendemos como essa cultura religiosa e seus manuscritos evoluíram a partir desta história. Nesta faixa de terra, explicam os curadores, "as crenças e a cultura dos moradores locais, nômades e invasores se mistura há milênios".

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