São Paulo, segunda-feira, 01 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ela trabalha. Ele cuida da casa. Eles são felizes

Por TARA PARKER-POPE

Desde que as feministas começaram a incentivar as mulheres a sair de casa e a investir em sua profissão, as pessoas discutem se o casamento e a vida romântica delas sairiam prejudicados. Uma mulher financeiramente bem-sucedida seria uma ameaça a seu marido ou um motivo de alívio para ele?
Relatório divulgado em janeiro pelo Centro de Pesquisas Pew sobre a chamada "ascensão das esposas" trouxe o debate à tona outra vez. A pesquisa constatou que, em quase um terço dos casais americanos casados, a mulher tem grau de instrução superior ao de seu marido. E, embora os homens ainda ganhem mais, elas hoje são as provedoras principais de 22% dos casais, contra 7% em 1970.
Pode não ser fácil acostumar-se à mudança nos papéis econômicos do casal, mas a transformação tem um efeito surpreendente sobre a estabilidade conjugal, contribuindo para uma queda nos índices de divórcio e para uniões mais felizes.
"Hoje as mulheres não têm necessidade de casar-se com homens de nível financeiro ou de instrução superior a elas, então é mais provável que escolham homens favoráveis a relacionamentos mais igualitários", disse Stephanie Coontz, diretora de pesquisas e educação do Conselho sobre Famílias Contemporâneas.
As mudanças de papéis no casamento com frequência não são planejadas, mas ocorrem em função de pressões financeiras inesperadas. Foi o que aconteceu com Cynthia e Brian Walder, de Massachusetts, que tiveram quatro filhos em cinco anos.
As duas primeiras gestações dela foram planejadas, mas a chegada inesperada de meninos gêmeos significou que o custo de creche para os quatro filhos seria alto demais se os dois pais conservassem seus empregos. "Um dos dois teria que ficar em casa", disse Cynthia, 34.
O emprego dela, no setor de marketing de uma seguradora, garantia o seguro-saúde da família. Por isso, há um ano, Brian, 36, consultor e corretor imobiliário, optou por ficar em casa. "Foi estressante", contou. "Se você tivesse me perguntado, cinco anos atrás, se eu estaria nesta situação, eu teria dito 'de jeito nenhum'."
Embora seja difundida a ideia de que a independência financeira da mulher eleva seu risco de divórcio, os índices de divórcio nos EUA contam uma história diferente: eles têm caído à medida que a situação econômica delas melhora.
No final dos anos 1970, o índice chegou ao pico de 23 divórcios por cada mil casais, mas, desde então, caiu para menos de 17 por mil. Hoje, as estatísticas mostram que, quanto mais instrução e independência econômica uma mulher conquista, maior é sua chance de permanecer casada.
Sociólogos e economistas dizem que essas mulheres podem ser mais seletivas na escolha de seu parceiro e podem ter mais poder de negociação dentro do casamento. Mas não são só elas que saem ganhando. O resultado tende a ser uma união conjugal mais justa e equitativa para ambos.
As mudanças não deixam de implicar em desafios. "Com as mulheres tendo mais responsabilidade como provedoras e os homens cuidando mais da casa e dos filhos, é preciso fazer muitos malabarismos e mudanças", disse Andrea Doucet, professora de sociologia na Universidade Carleton, em Ottawa (Canadá).
Eles às vezes têm dificuldade em adaptar-se ao poder econômico igual ou maior das mulheres. Enquanto isso, elas relutam em abrir mão de seu poder em casa e do controle sobre as tarefas domésticas.
A socióloga Kristen W. Springer, da Universidade Rutgers, constatou que, entre homens na casa dos 50 anos, ter uma mulher que ganha mais que eles pode resultar em um estado de saúde pior. Entre os casais de renda mais alta no estudo dela, um marido que ganha menos que sua mulher tem 60% menos chances de ter boa saúde, comparado com homens que ganham mais que suas mulheres.
E, mesmo entre os casais em que marido e mulher trabalham, as mulheres americanas ainda assumem em média dois terços dos trabalhos domésticos, segundo pesquisa da Universidade do Wisconsin. Mas é fato que os homens hoje ajudam muito mais do que no passado. Estudos indicam que, desde os anos 60, a contribuição deles às tarefas domésticas dobrou, e o tempo que passam cuidando das crianças triplicou.
E a mistura dos papéis tradicionais parece exercer efeito positivo. Lynn Prince Cooke, professora de sociologia na Universidade de Kent, Reino Unido, constatou que casais americanos que compartilham responsabilidades têm menos tendência a divorciar-se.
Brian Walder disse que outras mães costumam derramar-se em elogios a ele. "Elas dizem: 'Meu marido não seria capaz de fazer o que você faz.' O que eu acho é que elas não dão um voto de confiança a seus maridos. Todos os homens seriam capazes de cuidar da casa, assim como todas as mulheres são capazes de ser provedoras."


Texto Anterior: Tradição cai na Alemanha, e as mães voltam ao trabalho
Próximo Texto: Inteligência - Roger Cohen: Dois mundos, ligados porém dispersos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.