São Paulo, segunda-feira, 01 de fevereiro de 2010

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Pacificado, Camboja constrói estradas para se reconciliar e atrair turistas

Por THOMAS FULLER

SIEM REAP, Camboja - Projétil após projétil, operários removeram os detritos do passado cambojano. Eles retiraram 300 minas terrestres e 30 mil peças de munição da terra vermelha e depois jogaram uma espessa camada de asfalto.
Hoje, o que num lugar mais rico passaria por uma estrada comum é um precioso pavimento para um país viajando rumo à prosperidade e tentando superar seu sangrento passado.
Em dezembro, o governo local inaugurou as recém-recuperadas Rodovias 5 e 6, ambas construídas durante a colonização francesa para ligar a capital, Phnom Penh, à fronteira com a Tailândia.
O oeste do Camboja foi, até a década de 1990, o último reduto do Khmer Vermelho, cujo regime brutal foi deposto há três décadas. Lá, unidades rebeldes travavam escaramuças periódicas com as forças do governo, deixando as estradas como uma paisagem lunar, cheias de buracos e lama, o que para os viajantes significava dores nas costas, batidas na cabeça e muitas crateras por desviar.
Agora desfrutando dos dividendos da paz, o Camboja passa por um surto de obras viárias, com dez projetos totalizando 1.175 km de pavimentação, disse o primeiro-ministro Hun Sen, que comandou a cerimônia de inauguração em dezembro. Outras 11 rodovias estão em negociação, segundo ele.
As novas estradas tornam os legendários templos de Angkor confortavelmente acessíveis a partir da fronteira com a Tailândia -e a poucas horas de Bancoc. Elas também facilitam que os turistas cheguem a mais sítios históricos, num país repleto deles.
Rodovias são algo importante no Camboja, e mais de 5.000 aldeões foram convocados para a inauguração da estrada -agricultores vindos de bicicleta, monges budistas com a cabeça recém-raspada, escolares uniformizados. Hun Sen disse à multidão que o programa viário cambojano agora está dando "passos de elefante, não passos de rato".
Como a Autoestrada Norte-Sul na Malásia peninsular, a Estrada da Amizade construída pelos americanos no nordeste da Tailândia e a vasta rede rodoviária implantada pela China na última década, as vias se tornam um importante marco de desenvolvimento na Ásia.
Para o Camboja, em particular, boas estradas ajudam a unir um país fraturado pela guerra civil. "Este trecho foi um campo de batalhas muito intenso", disse Pheng Sovicheano, gerente do projeto da rodovia até a fronteira com a Tailândia.
Pheng, que também é diretor-geral-adjunto de obas públicas do Camboja, sabe bem como a estrada era ruim. Durante as obras, seu motorista entrou no que parecia ser um grande buraco lamacento, mas era um pequeno lago, inundando o carro até o peito dele. Como sinal da reconciliação nacional, alguns dos 360 operários contratados por Pheng para a obra eram ex-soldados do Khmer Vermelho.
Mas a modernidade traz consigo outro tipo de perigo. Pheng contou que recentemente ia de carro para Phnom Penh, à noite, quando se deparou com um acidente. Um jovem havia morrido quando sua moto colidiu com a traseira de um caminhão mal iluminado.
A mãe do rapaz, perturbada, culpou a boa condição da estrada, lembrou Pheng. "Ela disse: 'Antes, quando havia estradas ruins, ele nunca dirigia tão rápido'."


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