São Paulo, segunda-feira, 01 de fevereiro de 2010

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A mão pode tomar o lugar do mouse

Por ASHLEE VANCE

LAS VEGAS - O setor da tecnologia anda numa fase retrô -afastando-se dos controles remotos, mouses e joysticks, para algo que chega sem baterias, fios ou manual. Chama-se mão.
Nos próximos meses, Microsoft, Hitachi, grandes fabricantes de PCs e afins vão começar a vender dispositivos que permitirão às pessoas zapear a TV ou mover documentos na tela de computador com simples gestos de mão.
A tecnologia, uma das mudanças mais significativas na interface homem-máquina desde o surgimento do mouse, no começo da década de 1980, foi apresentada em sessões privativas durante o evento Consumer Electronics Show, no começo de janeiro.
Tentativas anteriores com uma tecnologia similar se revelaram desajeitadas e frustrantes. Já a nova safra chega com uma revigorante surpresa: funciona de verdade. "Tudo está finalmente indo na direção certa", disse Vincent John Vincent, cofundador da GestureTek, empresa que produz softwares para dispositivos gestuais.
Manipular a tela com uma pancadinha do punho vai fazer muita gente se lembrar do filme "Minority Report - A Nova Lei" (2002), em que Tom Cruise movimenta imagens e documentos em telas futuristas com gestos abrangentes. A tecnologia da vida real exigirá uma habilidade similar e alguma sutileza.
Fique diante de uma TV armada com uma câmera de tecnologia do gesto, e você poderá ligar o aparelho com um soquinho no ar. Mudar de canais exige um giro da mão, e para aumentar o volume você dá um tapinha para cima. Se há uma foto na tela, você pode ampliá-la segurando suas mãos no ar e separando-as, e reduzi-la juntando suas mãos novamente, como faria com os dedos em uma tela "touch screen" de celular.
A revolução gestual vai se popularizar a partir do fim do ano, quando a Microsoft lançará um novo sistema de videogame conhecido a esta altura como Projeto Natal. Trata-se da tentativa da Microsoft para superar o Wii, da Nintendo.
Enquanto o Wii exige controladores manuais hipersensíveis para traduzir os movimentos corporais em ação na tela, o Natal irá exigir apenas o corpo humano. A Microsoft já demonstrou jogos como uma queimada onde as pessoas podem saltar, atirar bolas contra seus adversários e se esquivar das boladas usando movimentos naturais. Ao mesmo tempo em que o sistema de games da Microsoft chegar ao mercado, a Hitachi deve lançar no Japão TVs que permitem que as pessoas liguem suas telas, mudem de canal e controlem o volume com movimentos manuais.
Laptops e outros computadores também devem chegar neste ano com câmeras embutidas capazes de captar gestos semelhantes. Tal tecnologia deve tornar obsoletas as atuais ferramentas de "touch screen", já que as pessoas usarão os gestos para controlar, por exemplo, o aparelho de DVD.
Para trazer à vida essas funções gestuais, a eletrônica precisa olhar detalhadamente o mundo ao seu redor por meio de pequenas câmeras digitais. Isso significou dar à TV, por exemplo, um meio de identificar as pessoas sentadas num sofá e reconhecer um certo ondular da mão como um comando, e não como uma coçada de nariz. Pequenas coisas como o sol, as luzes da sala e o incômodo hábito das pessoas de se levantarem de repente são alguns dos obstáculos que as empresas tiveram de superar.
A empresa GestureTek tenta há 25 anos aperfeiçoar a tecnologia, com algum sucesso. Ela ajuda apresentadores de meteorologia da TV, museus e hotéis a criarem enormes painéis interativos.
O grande avanço na nova tecnologia gestual se dá pelo uso de câmeras que veem o mundo em 3D, acrescentando aquela crucial camada de percepção de profundidade que ajuda um computador ou uma TV a reconhecer quando alguém vira a mão para frente ou balança a cabeça.
A empresa Canesta há 11 anos desenvolve chips para essas câmeras 3D. O chip ocupa menos espaço que uma unha. "Sempre tivemos esta visão grandiosa de sermos capazes de controlar dispositivos eletrônicos à distância", disse Cyrus Bamji, executivo-chefe de tecnologia da Canesta. A competição se tornou acirrada por causa do repentino interesse por essa tecnologia.
A Canesta e a PrimeSense, de Tel Aviv, têm disputado o direito de fornecer os chips 3D ao sistema de games Natal, da Microsoft. Numa demonstração em Las Vegas, uma câmera usando o chip PrimeSense pôde distinguir entre múltiplas pessoas sentadas num sofá e até apontar a diferença entre um casaco, uma camisa e uma camiseta usada por baixo desta. E, com tal tecnologia, é impossível, por mais que você tente, perder o controle remoto.


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