São Paulo, segunda-feira, 01 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Índice

Velho remédio vira licor fino

Por JONATHAN MILES

Na década de 1980, os fabricantes do licor Bénédictine criaram um slogan em um anúncio do B&B, drinque que é Bénédictine misturado com conhaque: "Viver bem é a melhor vingança".
Boa teoria. Mas, como retrucou Solomon Gursky, o personagem principal do romance "Solomon Gursky Was Here", de Mordecai Richler: "Viver duas vezes, ou talvez três, é a melhor vingança".
O Bénédictine, que comemora seu 500? aniversário neste ano, fez as duas coisas: viveu bem, tendo evoluído de um remédio amargo formulado por monges franceses a um elegante licor para depois do jantar, e acumulou duas ou três vidas em sua história de meio milênio.
Sua última vida -como um ingrediente redescoberto para finos coquetéis- está se desenrolando atualmente, em especial na cidade de Nova York, onde barmen-artífices estão usando o licor do mesmo modo que adotaram o Chartreuse, outro licor de ervas produzido originalmente em mosteiros.
"Ele tem um sério apelo", disse Damon Dyer, barman do Louis 649, no bairro do East Village. "E dá um certo algo mais a uma bebida." Esse "certo algo mais" vem de uma mistura de 27 ervas e especiarias que um monge chamado Dom Bernardo Vincelli distilou em 1510 em um mosteiro beneditino em Fécamp, na região francesa da Normandia.
O Elixir de Dom Vincelli, como foi chamado na época, fez sucesso até a Revolução Francesa, quando o mosteiro foi destruído. A receita se perdeu até que um colecionador de arte e comerciante de vinhos chamado Alexander Le Grand o descobriu em uma arca de livros antigos que comprou em 1863. Depois de brincar com a receita, Le Grand começou a vender o elixir como Bénédictine -desta vez para o prazer, mais que por motivos médicos.
Ele foi um ator menor nos EUA até a década de 1930, quando a moda de uma bebida chamada B&B -partes iguais de Bénédictine e conhaque, criada no 21 Club em Nova York- varreu o país. A reação da família Le Grand foi engarrafar o coquetel, misturando conhaque com o licor e vendendo-o como B&B.
O B&B ainda supera o Bénédictine em 9 para 1 nos EUA, segundo um porta-voz da empresa, mas é o produto original sem diluição que tem atraído ultimamente a curiosidade dos barmen. Como disse Dyer, "Não quero minha manteiga de amendoim e a geleia no mesmo pote, entende?"
Dyer exibe uma bebida que ele chama de Monte Cassino, em que mistura partes iguais de Bénédictine, suco de limão, Chartreuse amarelo e uísque de centeio Rittenhouse. "Eu queria pegar um ingrediente complexo como o Bénédictine e fazer com ele uma bebida simples", explicou o barman.
Moral da história, segundo Dyer: "Nem sempre precisamos procurar o produto mais novo, brilhante e vistoso da prateleira. Brilhante e novo nem sempre é o melhor".


Texto Anterior: O sabor que cativa a Jordânia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.