São Paulo, segunda-feira, 01 de março de 2010

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Prancha de surfe tem versão ecológica

"Uma prancha convencional é 100% tóxica"

Por TODD WOODY
SAN CLEMENTE, Califórnia - Apesar de sua imagem saudável de amor pela natureza, a indústria do surfe frequentemente depende de processos manufatureiros tóxicos, gerando toneladas de lixo ao produzir pranchas e outros artigos.
"A coisa mais suja do surfe está debaixo dos nossos pés: uma prancha convencional é 100% tóxica", disse Frank Scura, surfista e diretor-executivo da Coalizão Ambiental dos Esportes de Ação, organização pró-varejo verde.
Em San Clemente, a empresa recém-fundada Green Foam Blanks se propõe a mudar meio século de tradição na fabricação de pranchas. Seus fundadores, Joey Santley e Steve Cox, inventaram o que acreditam ser o primeiro bloco de espuma -material básico de uma prancha- feito de poliuretano reciclado.
Santley e Cox coletam aparas de poliuretano de fábricas de pranchas de surfe e, usando um processo que eles criaram e patentearam, misturam as aparas com espuma virgem para criar um bloco que é 60% a 65% composto de material reciclado. O objetivo é reduzir a produção de espuma nova, normalmente feita de um composto carcinogênico chamado diisocianato de tolueno, ou TDI.
"Todos os dias, no sul da Califórnia, são moldadas cerca de 800 pranchas novas, e até 40% de cada bloco de espuma, que contém materiais tóxicos, acaba chegando a um aterro sanitário", disse Santley.
Desde que iniciou sua produção, no início do ano, a Green Foam já vendeu cerca de mil blocos de espuma reciclados para a produção de novas pranchas.
Até 2006, uma única empresa da Califórnia, Clark Foam, forneceu mais de 80% dos blocos de espuma usados na fabricação de pranchas em todo o mundo. Quando a Clark Foam foi fechada de repente -a empresa disse que sofria pressões devido ao uso de TDI-, o mercado se abriu para novos processos de manufatura, disse Sean Smith, diretor-executivo da Associação Manufatureira da Indústria do Surfe.
A China intensificou as exportações de blocos de espuma feitos de poliestireno, que alguns consideram ambientalmente superior ao poliuretano. Alguns fabricantes começaram a fazer experimentos, usando substâncias químicas menos nocivas para produzir poliuretano.
Em novembro, Santley convenceu um engenheiro de uma das empresas a deixá-lo moldar o primeiro bloco de espuma reciclado. "Adoro o fato de que é possível pegar pranchas velhas, moê-las e fazer mais pranchas, em vez de atirar tudo num aterro sanitário", disse o surfista Donavon Frankenreiter.
Outra companhia, a Surf Hardware International, está desenvolvendo uma quilha reciclada de prancha, chamada Green Flex e feita em parte com tapetes descartados e derretidos para serem reduzidos a resina.
Porém, Matt Biolos, célebre "shaper" de pranchas de surfe, disse que tentou fazer pranchas com os blocos de espuma ecológicos, mas que a qualidade destes não se iguala aos produtos de poliuretano. "Os surfistas não vão sacrificar a performance em nome da ecologia", disse.
Para ele, as vantagens dos blocos reciclados da Green Foam são seu preço competitivo, o fato de sua performance ser comparável à das pranchas novas de poliuretano e o fato de não exigirem que os "shapers" modifiquem seu processo de produção de pranchas. A desvantagem, afirma, é que a Green Foam produz uma parcela maior de blocos de espuma com defeitos. Santley reconhece que esse problema existe.


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