São Paulo, segunda-feira, 01 de março de 2010

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Autor de musicais volta à cena em escala intimista

Por PATRICK HEALY
Aos 79 anos, e tendo em seu currículo algumas das maiores obras do teatro musical dos EUA, Stephen Sondheim chegou àquele ponto na carreira de um compositor prolífico em que as grandes reencenações de seus espetáculos já se contam em números de dois algarismos.
E as reencenações são acompanhadas de reformulações. Na Broadway, a tendência mais visível tem sido a das orquestrações de câmara, como os arranjos para oito instrumentos usados no atual revival de "A Little Night Music", história de Sondheim e Hugh Wheeler sobre amantes de idade madura que lamentam seu passado.
Sondheim disse que a "camarização" de sua obra tem tido um efeito surreal sobre ele, que a vê como uma faca de dois gumes.
"Cheguei a uma idade em que estou duas gerações depois da época em que eu era visto como alguém de vanguarda. Passei de vanguarda para antiquado em apenas cinco minutos. Você começa a se sentir superado", disse ele. "A arte popular muda a cada nova geração. A mesma coisa se aplica a peças de teatro e musicais. As pessoas gostam de coisas barulhentas e aceleradas. Essa é uma das coisas que gosto em 'A Little Night Music': o musical diz: 'Vá devagar. Desacelere e reflita.'"
Uma parte dele sente saudades "do som grandioso das orquestras maiores", que está ausente da produção atual de "Night Music", sem falar nos revivals musicalmente enxutos apresentados na Broadway de "Sweeney Todd" (2005) e "Sunday in the Park With George" (2008). É estranho, disse Sondheim, imaginar que o primeiro contato que novas gerações de espectadores têm com sua obra possa ser em escala intimista, em lugar da musicalidade desenfreada das produções originais de décadas atrás na Broadway.
A nova abordagem também é estimulante. Sondheim, que está concluindo um livro sobre dramaturgia e redação de letras, diz que não se contenta apenas em ser guardião de seus espetáculos ou percorrer o mundo carimbando o selo de sua aprovação sobre as recriações de suas obras.
"A boa notícia dessa abordagem de câmara é que você tem a chance de concentrar-se na obra, e não tanto na produção", disse Sondheim, que inclui na tendência recente o revival em escala menor de "Company" apresentado na Broadway em 2006.
Numa era de musicais "blockbusters", como "Wicked", de espetáculos voltados ao rock, como "American Idiot", e da TV-realidade, que converte performances musicais em concursos ("American Idol"), Sondheim disse sentir "arrepios na espinha" quando ouve alguém dizer que um determinado formato musical é pontual ou relevante. Para ele, o objetivo sempre foi narrar uma história clara e de conteúdo, e não estar em voga, além de equilibrar música e letra de modo que as orquestrações não se sobreponham à história.
Muitos musicais de hoje perdem isso, disse ele. As orquestrações menores o agradam porque permitem ainda mais dicção e clareza por parte dos atores. Além disso, disse, em vista dos poucos instrumentos usados em "Night Music", "a diversidade na orquestração é surpreendente".
Trevor Nunn, diretor do novo revival de "Night Music", disse que seu objetivo foi montar uma produção "bem mais tchekhoviana em suas intenções" do que uma produção mais grandiosa poderia ter feito. Ele acrescentou que espera em breve montar uma nova produção do musical "Follies" (1971), também de Sondheim, e que vai procurar criar um clima igualmente íntimo.
Os revivals de obras de Sondheim são especialmente apropriados para serem reimaginados, disse Nunn, porque o compositor quebrou as convenções teatrais, começando com as letras que criou para "West Side Story" (1957) e "Gypsy" (1959).
"Quando assisti a 'Next to Normal' pela primeira vez", disse Nunn, referindo-se ao musical que trata da luta de uma família contra a depressão e a morte, "achei uma realização espantosa que provavelmente nem sequer teria sido tentada se Sondheim não tivesse ampliado as fronteiras daquilo que é possível fazer no teatro musical. E, quando fazemos revivals, se os fazemos bem, as fronteiras da imaginação podem ser ampliadas mais uma vez".


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