São Paulo, segunda-feira, 01 de junho de 2009

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Informática vira gestora de infraestrutura urbana

Por STEVE LOHR

Em meados da década de 1990, a internet decolou por causa da confluência dos avanços acumulados durante anos na criação de computadores, softwares e canais de comunicação mais poderosos e baratos.
Um padrão similar está surgindo hoje, dizem especialistas, na chamada "infraestrutura inteligente" -sistemas mais eficientes e ambientalmente corretos para gerir, entre outras coisas, o trânsito urbano, a distribuição de alimentos e redes elétricas e de saneamento. Desta vez, os ingredientes tecnológicos cruciais incluem sensores de baixo custo e programas mais inteligentes para análise e visualização, além de computadores poderosos.
Sensores sem fio podem captar e transmitir informações de praticamente qualquer objeto -estradas, caixas de alimentos, cabos elétricos ou encanamentos. E os softwares mais avançados ajudam a interpretar o enorme fluxo de informação. O resultado, dizem os especialistas, deve ser uma grande redução do uso de energia, de emissões de gases do efeito estufa e do consumo de recursos naturais.
A infraestrutura inteligente é um novo horizonte para a informática. Os computadores já se provaram como ferramentas poderosas para o cálculo e a comunicação. O próximo passo é que se tornem instrumentos para o controle, ligando-os a sensores que fornecem dados por meio da infraestrutura do planeta.
"Estamos entrando em uma nova fase da computação, em que os computadores irão interagir com o mundo físico como nunca antes", disse Edward Lazowska, professor de ciência da computação da Universidade de Washington.
Algumas grandes empresas, como IBM, Cisco e General Electric, mantêm importantes iniciativas -a IBM chegou a batizar sua campanha como "Planeta mais inteligente". Várias outras companhias, grandes ou pequenas, também estão atrás de oportunidades.
A IBM, com seus grandes laboratórios e sua atuação em serviços tecnológicos, tem mais experiência em projetos de infraestrutura digital como um todo. Muitos dos seus projetos mais avançados estão na Europa, onde os custos energéticos são mais elevados que nos EUA.
Mas embora a Europa esteja anos à frente, há crescentes investimentos nos EUA, segundo Sharon Nunes, cientista que dirige o grupo de inovações ambientais da IBM. No setor elétrico, a IBM tem programas de "redes inteligentes" em parceria com vários governos e empresas, usando sensores, softwares e contadores domésticos computadorizados para manter as linhas de transmissão e reduzir o consumo elétrico.
No campo da distribuição, a IBM tem trabalhado com os produtores e varejistas para começar a reduzir um desperdício de alimentos de US$ 48 bilhões por ano nos EUA. Na Noruega, ela tem um projeto com a maior empresa fornecedora de alimentos do país para usar etiquetas de identificação por radiofrequência (RFID) e um software de monitoramento pela internet para otimizar o transporte entre o campo e os supermercados, reduzindo o desperdício.
Atualmente, a IBM está construindo sistemas de tráfego inteligentes em cidades como Londres e Brisbane (Austrália), mas seu maior sucesso é em Estocolmo. Em 2006, a capital sueca começou a cobrar um pedágio urbano de até R$ 8 no centro, dependendo da hora do dia. Os carros foram monitorados por cartões de RFID e webcams que fotografavam placas.
Os motoristas tinham dois dias para pagar o pedágio, sob risco de penalidades, mas a IBM conectava os dados do motorista a 400 lojas de conveniência, para facilitar o pagamento.
Em poucas semanas, o impacto em Estocolmo estava evidente e se mostrou permanente. O tráfego no centro caiu 20%, as emissões de dióxido de carbono diminuíram 12%, e o transporte público local ganhou 40 mil passageiros por dia, segundo a IBM. As webcams leram corretamente as placas dos carros em mais de 95% dos casos, permitindo abandonar a RFID. Cobertos os gastos iniciais, o sistema de tráfego inteligente gera R$ 160 milhões por ano para a cidade.
Já Amsterdã tenta convencer as pessoas a ficarem perto de suas casas, em vez de taxar seu deslocamento, e atua com a Cisco e com outras empresas para criar centros de trabalho remoto. Uma unidade-piloto foi inaugurada em setembro em Almere, cujos residentes rotineiramente se deslocam a Amsterdã.
No centro existem estações de trabalho com computadores de alta velocidade, ligados à internet, teleconferência em vídeo de alta definição e creche. Mesmo as ferrovias, uma tecnologia do século 19, estão recebendo mais inteligência "high-tech". Numa experiência nos EUA, a GE está usando sensores em trilhos e locomotivas, sofisticados modelos informatizados e um software destinado a otimizar o fluxo na malha ferroviária.
"Tanto os trens quanto os trilhos estão evoluindo e ficando mais inteligentes", afirmou Christopher Johnson, especialista em computação e ciência nos laboratórios de pesquisas da GE.


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