São Paulo, segunda-feira, 01 de agosto de 2011

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A Índia já está exportando sofisticação

Por VIKAS BAJAJ
PUNE, Índia - Quando Ranjit Date retornou à Índia 20 anos atrás, depois de obter um doutorado em robótica de uma universidade americana, ele esperava ajudar a automatizar as linhas de montagem de fábricas em seu país.
Sua empresa, a Precision Automation and Robotics India, vem fazendo isso. Mais recentemente, ela também começou a vender robôs a companhias ocidentais como Caterpillar, Ford e Chrysler. Neste ano, um terço das vendas da Precision Automation virá das exportações, que, cinco anos atrás, eram quase inexistentes.
A empresa de Date é emblemática do recente crescimento nas exportações de artigos criados por engenharia, além de outros produtos sofisticados, pela Índia -um país conhecido por exportar serviços qualificados, como a terceirização de softwares.
Na realidade, porém, as exportações indianas de bens hoje equivalem a quase o dobro das exportações de serviços, tendo aumentado 37,5%, para US$ 145,9 bilhões, nos 12 meses que se encerraram em março. Essa tendência é encabeçada por produtos de valor alto, como máquinas industriais, automóveis, autopeças e produtos de petróleo refinado.
As exportações indianas estão seguindo um caminho diferente daquele trilhado por outros países asiáticos, como Japão, China e Coreia do Sul. Esses países começaram por exportar artigos como roupas e brinquedos produzidos em grande volume por trabalhadores mal pagos e pouco qualificados, antes de passarem para produtos mais sofisticados, como carros e máquinas industriais.
A Índia, em grande medida, foi diretamente para a produção de artigos de capital intensivo, que requerem a mão de obra de trabalhadores qualificados, mas não necessariamente em grande número. Em lugar de buscar o modelo de exportação tradicional dos países em desenvolvimento, a Índia objetiva, com o tempo, alcançar algo mais semelhante ao misto de bens industriais para o mercado global que é exportado pela Alemanha.
Nos últimos dez anos, centros de exportação industrial surgiram em todo o país, alguns graças ao planejamento governamental. Aqui em Pune, a cerca de 160 km a leste de Mumbai, um dinâmico centro doméstico automotivo e de engenharia fornece produtos para os EUA e outros mercados ocidentais. Chennai, ao sul, virou a Detroit da Índia, com fábricas que exportam carros pequenos para a Europa, África e América Latina. No oeste, o Estado de Gujarat abriga várias grandes refinarias de petróleo que recebem óleo cru importado e o processam, transformando-o em produtos como combustível diesel e combustível para aviões que são vendidos para outros países asiáticos.
Enquanto isso, os produtos de exportação tradicionais, como têxteis e produtos agrícolas, somados, hoje respondem por menos de 20% dos produtos que a Índia vende para o mundo. Hoje, a Índia exporta menos roupas do que seu vizinho Bangladesh, que tem apenas um oitavo da população indiana, e cuja economia tem um quinze avos das dimensões da economia indiana. "A Índia deixou a história dos têxteis para trás", falou Rohini Malkani, economista do Citigroup na Índia. "Hoje, o país manufatura produtos químicos, incluindo farmacêuticos, e produtos de engenharia."
Tudo isso nasceu, sob muitos aspectos, da necessidade. A infraestrutura deficiente de transportes e eletricidade e as leis trabalhistas restritivas do país desencorajaram empresas de criar fábricas manufatureiras que fazem uso intensivo de mão de obra, como aquelas pelas quais a China é conhecida. Em lugar disso, exportadores indianos se especializam em bens e serviços de valor mais alto, que exigem menos trabalhadores, mas que são mais especializados. O florescimento das bases industriais remete ao início dos anos 1990.
Alguns economistas preveem que a economia indiana cresça 7,5% neste ano, chegando a US$ 1,6 trilhão. Um crescimento dessa ordem poderia ser visto por muitos países como altamente animador, mas seria inferior aos 8,5% do ano passado. E está abaixo do índice de 10% que muitos economistas consideram que a Índia poderia alcançar, se investisse mais em infraestrutura, e se o governo reduzisse mais seu controle sobre vários setores da economia.
Ranjit Date, o empreendedor de robótica, prevê que as vendas de sua empresa cresçam 20% neste ano, para US$ 67 milhões. A empresa está construindo nos arredores de Pune uma segunda fábrica, para atender à demanda crescente por seus robôs e linhas de montagem automatizadas. Em 2003, a empresa abriu um escritório perto de Detroit e começou a conseguir contratos pequenos para fornecer máquinas de linha de montagem e outros equipamentos a fabricantes de autopeças.
Analistas dizem que exportadores indianos como a Precision Automation vêm se saindo bem, em vista dos desafios que enfrentam. Mas, para a Índia tornar-se grande exportadora, como a China -cujas exportações somaram US$ 1,58 trilhão no ano passado-, os estrategistas nacionais precisam melhorar a infraestrutura do país, flexibilizar sua legislação trabalhista e melhorar o ensino básico, disse K.T. Chacko, diretor do Instituto Indiano de Comércio Exterior, de Nova Déli.
Ranjit Date disse que sua maior dificuldade é encontrar, treinar e manter engenheiros qualificados. Sua empresa submete cada engenheiro que chega a um ano de treinamento pago, na própria empresa, que custa à companhia 1 milhão de rúpias (US$ 22.200) por profissional, já que os engenheiros recém-formados não possuem qualificações suficientes. Cerca de um quarto dos funcionários fica na empresa apenas três anos antes de passar para outras companhias.
A infraestrutura é outra preocupação. A fábrica de Date só recebe eletricidade da empresa elétrica por metade do tempo, mais ou menos, fato que a obriga a depender de geradores a diesel. Mas Date disse que as rodovias e as aprovações regulatórias vêm melhorando. Cinco anos atrás, a alfândega e as autoridades tributárias levavam sete dias para aprovar exportações de carregamentos.
Esse prazo foi reduzido para dois dias. "É suportável", disse Date, "mas ainda precisa melhorar."


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