São Paulo, segunda-feira, 01 de agosto de 2011

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

ANÁLISE DO NOTICIÁRIO

A jornada difícil para elucidar os mistérios do câncer

Por GINA KOLATA
Para identificar uma célula cancerosa e revelar as drogas que podem matá-la, a ciência procura conjuntos de genes e moléculas que formem padrões ou assinaturas reveladores.
Mas, neste admirável mundo novo das pesquisas com câncer, os sucessos têm sido poucos, e houve alguns fracassos notáveis.
Exames genéticos na Universidade Duke, de Durham, na Carolina do Norte, revelaram ser destituídos de valor, embora inicialmente fossem saudados como avanços importantes. Dois novos exames de sangue para detectar o câncer ovariano também foram abandonados.
Mas pesquisadores dizem que não podem desistir de sua busca pelas assinaturas. Trata-se de um empreendimento complexo que envolve complicadas análises de padrões de genes ou outros componentes celulares.
Daniel Hayes, que pesquisa o câncer de mama na Universidade do Michigan, diz que as assinaturas podem ser empregadas para identificar células cancerosas da mesma maneira como um desenho de xadrez pode identificar um clã escocês. "Cada xadrez é composto por fios de várias cores distintas, mas, quando os fios são tecidos para formar um pano único, o resultado é um padrão ou assinatura singular que distingue um clã do outro."
Os pesquisadores em busca de assinaturas constantemente se deparam com ligações espúrias com o câncer, mas que se parecem muito com as verdadeiras.
Donald Berry, estatístico do Centro MD Anderson de Câncer da Universidade do Texas, diz que os padrões de genes ou proteínas "são muito difíceis de se acertar". Encontrá-los, ele afirma, "é como procurar uma agulha em um palheiro, sendo que você não consegue distinguir a agulha da palha".
A análise de tecido canceroso para um estudo genômico envolve entre 200 e 3.000 passos e leva vários dias para ser concluída.
"Qualquer um desses passos pode dar errado, e um bom pesquisador deve saber o que pode influir sobre o êxito de cada passo e deve fazer controle de qualidade", disse Lajos Pustai, pesquisador de câncer de mama no Centro MD Anderson de Câncer.
O que se faz necessário é uma pesquisa para descobrir se um exame baseado em um novo marcador biológico faz mais bem do que mal. É um processo caro e que demanda tempo, mas esse é o tipo de trabalho de coleta de evidências que quase sempre é feito para averiguar se um novo medicamento possui eficácia, notou Hayes. Há poucos incentivos para a avaliação de biomarcadores, pois a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) não o requer, e as empresas não são reembolsadas para os exames baseados em biomarcadores tanto quanto são para novos medicamentos contra o câncer.
"Há toda uma série de coisas neste ciclo que precisa ser rompida", disse Hayes. De acordo com cientistas, um passo que poderia fazer grande diferença seria que pesquisadores que acreditem ter encontrado uma nova assinatura genômica do câncer publicassem uma parcela suficiente de seus dados e análises para que outros cientistas comprovassem seu trabalho. Até agora, isso foi feito por surpreendentemente poucos.
A única razão pela qual se descobriu que a pesquisa da Universidade Duke era falha foi que ela se baseou em dados e algoritmos publicamente disponíveis. Mesmo assim, decifrar os detalhes do trabalho foi tão complicado que dois estatísticos do Centro MD Anderson, Keith Baggerly e Kevin Coombes, levaram 2.000 horas para localizar os erros.
Possivelmente ilustrando os perigos da abordagem "agulha no palheiro", as únicas duas assinaturas genômicas de câncer que já foram validadas, usadas nos exames Oncotype DX e MammaPrint, foram descobertas de maneiras muito diferentes.
Em ambos os casos, os pesquisadores começaram com centenas de genes que eles tiveram alguma razão para pensar que fossem importantes.
Eles reduziram esse grupo aos genes que pareciam ter utilidade clínica. A análise Oncotype DX é baseada em 21 genes, e a MammaPrint, em 70. Em seguida, as duas empresas submeteram suas assinaturas a testes rigorosos para ter certeza de que eram precisos em mulheres com câncer de mama. O Oncotype DX demonstrou que sua assinatura era capaz de prever prognósticos e a possibilidade de as mulheres se beneficiarem de quimioterapia.
No entanto, as duas assinaturas usadas para fazer esses exames possuem apenas um gene em comum.
"O que isso significa, como acho que todo o mundo está começando a descobrir, é que o câncer é uma coisa muito complexa", disse Berry.


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