São Paulo, segunda-feira, 01 de agosto de 2011

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Para frear invasores, é só comê-los

Por ELISABETH ROSENTHAL
Com suas listras negras e vermelho-escuras, barbatanas malhadas e longos ferrões pretos e venenosos, o peixe-leão parece combinar mais com filmes de horror do que com o consumo humano. Mas é bem possível que filés de peixe-leão apareçam nas mesas dos americanos em breve.
Uma espécie invasora, o peixe-leão vem devastando as populações de peixes dos recifes do Caribe e da costa da Flórida. Agora, ambientalistas, grupos de consumidores e cientistas estão testando uma solução inovadora para controlar o peixe-leão e outras espécies invasoras -uma solução que também reduziria a pressão sobre as populações de peixes oceânicos pescados para consumo humano: querem que as pessoas comecem a comer animais invasores em grande número.
"Os humanos são os predadores mais onipresentes sobre a Terra", disse Philip Kramer, diretor do programa caribenho da organização Nature Conservancy. "Em lugar de consumir algo como uma sopa de barbatanas de tubarão, por que não consumir uma espécie que está causando danos?"
As espécies invasoras vêm se tornando um problema nos EUA. Explosões populacionais de carpas asiáticas vêm sobrecarregando o rio Mississippi, e caranguejos verdes europeus invadiram as costas, devorando animais nativos e superando-os na disputa por fontes de alimento.
Embora a maioria das espécies invasoras não seja vista como alimento, isso é, para especialistas, uma questão de marketing. "Achamos que pode haver um mercado real", disse Wenonah Hauter, diretora-executiva da entidade Food and Water Watch (vigilância de alimentos e água), cujo Guia Inteligente de Frutos do Mar 2011 recomenda, pela primeira vez, que os consumidores procurem espécies invasoras, vistas como alternativa "mais segura e sustentável" às espécies aparentadas que estão minguando.
Cientistas destacam que o consumo humano é apenas uma parte do que é preciso para controlar as espécies invasoras, e que um plano deve incluir um trabalho de devolução dos predadores dos peixes aos habitats nos quais as populações estão reduzidas, além da construção de barreiras físicas.
Atiçar o apetite da América é algo que encerra riscos. Se uma espécie invasora for promovida, ela pode passar a ser tão procurada que "pessoas passariam a criar ou soltar os peixes na natureza", disse Valerie Fellows, porta-voz do Serviço de Pesca e Fauna Silvestre dos EUA. A tilápia, um peixe de água doce, foi levada à América Latina originalmente para auxiliar no controle de ervas daninhas e insetos indesejados, mas a comercialização ajudou a espécie a se propagar muito mais do que o pretendido.
Philip Kramer receia que o marketing do peixe-leão possa aumentar o número de armadilhas colocadas em recifes. Para ele, a pesca com lança é uma maneira sustentável de capturar os peixes.
Para aumentar a demanda por animais que alguns veem como sendo comestíveis, a Food and Water Watch formou uma parceria com a Fundação James Beard e o restaurante South Gate, em Nova York, para a criação de receitas que usem os animais. Em uma degustação, havia ceviche de carpa asiática e filé de peixe-leão refogado. A constatação: o peixe-leão tem aparência horrível, mas sabor delicioso.
Nativo do oceano Índico e do Pacífico sul, o peixe-leão chegou ao Caribe no início dos anos 1990 e está se difundindo rapidamente.
Ele se alimenta com voracidade, chegando a devorar os filhotes de peixes nativos. Como a garoupa, o peixe-leão pode ser portador da ciguatoxina, que provoca vômitos e sintomas neurológicos, de modo que não pode ser pescado em águas onde tenha sido encontrado o micróbio que produz a toxina.
"O que essas espécies precisam agora é de um perfil mais atraente", disse Hauter.


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