São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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A difícil arte de ser bipartidário

Ao aproximar-se de adversários, Obama pode afastar aliados

Por JEFF ZELENY

CHICAGO - Em sua transição ao poder, o presidente eleito Barack Obama está trabalhando para construir um relacionamento cordial com republicanos, buscando orientação em propostas políticas, pedindo conselhos sobre indicações para cargos e esperando evitar a impressão de arrogância política.
Obama telefonou a líderes republicanos e enviou seu novo chefe-de-gabinete, Rahm Emanuel, para reunir-se com eles no Capitólio. Ele pediu aos republicanos apoio a seu plano de recuperação econômica e nomeou Timothy Geithner, que trabalhou com a equipe de Bush, para secretário do Tesouro.
"Eu diria que até agora as coisas estão indo bem", comentou o senador Lamar Alexander, do Tennessee, membro da equipe de liderança republicana. "Se Obama continuar nesse caminho, encontrará muitos republicanos dispostos a ajudá-lo. Está quase inteiramente nas mãos dele."
As concessões aos republicanos vêm enfurecendo muitos democratas de esquerda, mas oferecem uma idéia de como Obama espera abordar a Presidência. As críticas vindas da esquerda ilustram os desafios que ele tem pela frente, à medida que o simbolismo de estender a mão aos republicanos dá lugar a divergências em torno da guerra do Iraque, dos impostos e da reforma da saúde, especialmente em vista das dimensões das maiorias democratas no Congresso e das pressões que essas maiorias vão impor a ele, vindas de seu próprio partido.
Com a escolha de Geithner para secretário do Tesouro e da senadora Hillary Clinton como secretária de Estado, Obama envia sinais centristas e pragmáticos; ao mesmo tempo, vai em direções mais tradicionalmente de esquerda, ao confiar a reforma do sistema de saúde a Tom Daschle, ex-líder democrata no Senado.
Mas se o presidente eleito decidir adiar o aumento dos impostos sobre a população de renda mais alta, como recomendaram alguns de seus assessores, isso será uma maneira poderosa de atrair apoio dos republicanos.
Obama atraiu a ira de partidários quando se reuniu com o republicano John McCain e discutiu possível indicações de republicanos a seu gabinete.
Chris Bowers, do blog OpenLeft.com, queixou-se de que os nomes escolhidos para a política externa são de centro-direita. "Estou incrivelmente frustrado", escreveu Bowers. "Até agora os progressistas foram deixados de fora das principais nomeações."
Assessores do presidente eleito disseram que Obama tem plena consciência dos malabarismos que terá que fazer, especialmente quando se esforça para evitar decepção ou ressentimento entre os democratas de esquerda, um grupo que foi essencial para sua indicação presidencial.
"Embora as maiorias sejam grandes, os desafios que estamos herdando são de magnitude tão grande que será necessário bipartidarismo para resolvê-los", disse Rahm Emanuel, depois de concluir uma rodada de reuniões com republicanos no Congresso.
Mesmo quando eram maioria, os republicanos freqüentemente se frustravam com a falta de comunicação entre o governo Bush e o Congresso. "Acho que a nova administração está começando bem", opinou o senador republicano do Kentucky Mitch McConnell.


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