São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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Papel da primeira-dama levanta debates

Por RACHEL L. SWARNS

WASHINGTON - Os comentários foram do tipo "agüente firme, colega", de uma mãe e profissional liberal a outra - mas não figuraram em um telefonema ou carta, e sim no "The Times" de Londres, em novembro, sob o título: "Meu conselho a Michelle Obama: aprenda a ficar em segunda posição".
As palavras pontuais vieram de Cherie Blair, advogada, mãe de três filhos e esposa do ex-primeiro ministro britânico Tony Blair. Prepare-se para sofrer grandes frustrações em sua vida de primeira-dama, ela avisou a Michelle, que é advogada, mãe de duas filhas e esposa do presidente eleito Barack Obama.
"É uma certa ironia o fato de que, nestes dias em que as mulheres lutam pela igualdade, aquelas de nós casadas com líderes políticos somos obrigadas a suspender nossas próprias ambições e guardar nossas opiniões enquanto nossos cônjuges estão no poder", escreveu Cherie Blair.
Os conselhos não solicitados refletem a discussão ardente travada em todo o mundo entre mães que também têm vida profissional, enquanto observam Michelle Obama finalizar sua transição de executiva de hospital a autoproclamada mãe-em-chefe na Casa Branca. Muitas mulheres ainda estão profundamente divididas quanto a se ela se tornará uma pioneira ou um símbolo desanimador das limitações sofridas pelas mulheres modernas que conjugam maternidade e vida profissional.
A discussão vem borbulhando em blogs, revistas na internet, entrevistas na TV e em talk shows de rádio.
A questão é debatida com intensidade especial, não apenas porque Michelle Obama será a primeira mulher negra a ser primeira-dama dos EUA, mas também porque ela tinha uma carreira profissional de destaque e a suspendeu para ajudar seu marido na campanha pela Presidência. Ela ganhava mais de US$ 300 mil por ano como vice-presidente do Centro Médico da Universidade de Chicago.
Em janeiro, Michelle Obama, 44 anos, se tornará a segunda primeira-dama da história americana com uma carreira profissional ativa até pouco antes de chegar à Casa Branca, disse Myra Gutin, estudiosa de primeiras-damas da Universidade Ryder (a primeira foi a senadora e advogada Hillary Clinton).
Leslie Morgan Steiner, editora da antologia de ensaios "Mommy Wars" (Guerra das Mamães), argumentou no programa "Tell Me More", da Rádio Pública Nacional, que Michelle Obama só passou a ser comentada na mídia noticiosa depois de ter decidido "priorizar sua família".
Outras mulheres, porém, argumentam que as mães modernas deveriam ter o direito e a oportunidade de mudar de prioridades em diferentes fases de suas vidas.
Michelle prometeu usar sua influência como primeira-dama para lutar por um equilíbrio melhor entre trabalho e família e pelos cônjuges de militares, entre outras coisas. E seus defensores insistem que ela vai reformular o papel da primeira-dama, em lugar de ser reformulada por ele.
Na realidade, os contatos que ela fizer em Washington e as lições que aprender sobre o funcionamento interno do Salão Oval podem acabar por dar um incentivo a sua carreira, dizem alguns.
"Falemos francamente: se Obama for presidente por um ou dois mandatos, quando Michelle deixar a Casa Branca ela se tornará sócia de qualquer firma de advocacia do país que queira", disse Karen O’Connor, diretora do Instituto Mulheres e Política da American University. "Não é como uma mulher qualquer que abre mão de sua carreira para acompanhar seu marido a algum lugar. Nesta situação, cada ano a mais valerá outros US$ 100 mil a Michelle Obama. É quase um investimento."
A própria Michelle Obama descreveu como se sentiu por abrir mão de sua vida profissional para apoiar a candidatura presidencial de seu marido. "Sinto falta de meus colegas, sinto falta de meu trabalho. Eu curtia o que fazia", disse ela à CNN em fevereiro. "Mas isto é realmente algo muito importante. Minha visão da carreira é que sempre poderei ter a carreira que eu quiser. É por isso que não questiono se poderei voltar àquele cargo ou, depois, trabalhar em outra coisa interessante."


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