São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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Crise econômica afeta espetáculos da Broadway

“O problema parece gigantesco”, afirma Freydberg, veterano dos musicais

Por PATRICIA COHEN

Como a maioria dos produtores de longa data da Broadway, James Freydberg está acostumado a obter empréstimos. Recentemente, porém, ele descobriu que, apesar do que afirmou ser seu histórico perfeito de crédito, seu banco não vem se mostrando tão complacente. “Os bancos não estão dispostos ou não estão em condições de conceder empréstimos”, disse.
“Já passamos por reveses econômicos antes, mas o que estamos testemunhando agora é muito incomum”, lamentou Freydberg, que nos últimos 25 anos esteve envolvido em mais de uma dúzia de produções. “Pela primeira vez, eu olhei para nosso negócio e disse, ‘o problema parece gigantesco’.” Quanto aos espetáculos sem fins lucrativos, a queda forte nas doações e no público significa que “alguns deles podem afundar”.
Desconfia-se que alguns espetáculos da Broadway possam ficar vazios na próxima primavera americana, mas, por enquanto, a maioria dos grandes teatros ainda tem seus ingressos esgotados, e a maioria dos teatros sem fins lucrativos já encerrou seus trabalhos de levantamento de fundos para este ano fiscal.
A maior dúvida, porém, é quanto à próxima temporada de outono do teatro americano. As pessoas que trabalham no setor se perguntam não apenas sobre teatros vazios, mas também sobre os efeitos que a crise terá sobre o fluxo de trabalho criativo.
A indústria do teatro se vê pressionada de dois lados, pelos produtores e pelos compradores de ingressos. Os bancos estão segurando seu capital, receosos de emprestar. Muitas pessoas ricas perderam milhões ou até bilhões de dólares de seus portfólios.
Emanuel Azenberg, que está trazendo de volta duas das peças autobiográficas de Neil Simon para o próximo outono, comentou: “Pessoas que normalmente investem muito dinheiro no teatro —porque têm muito dinheiro— estão se retraindo”.
Injetar dinheiro no teatro é “um luxo, não um investimento”, disse Freydberg. Afinal, a economia da Broadway nunca fez muito sentido. Cerca de 80% de suas produções nunca chegam a recuperar seu investimento inicial. Seus maiores apelos são o glamour e a emoção.
Quanto às vendas de ingressos, a produtora Margo Lion disse que os espetáculos para a família provavelmente serão os primeiros a sentir o arrocho, porque levar uma família inteira ao teatro custa caro. Provas disso já surgiram a leste da Broadway, no Radio City Music Hall. Em outubro, o teatro reduziu o número de espetáculos natalinos de 225 para 216.
Carole Shorenstein Hays, produtora da Broadway e dona de teatro há anos, disse que o setor precisa analisar o trabalho e investir em artistas em quem os produtores ponham fé. “Não estou certa de que o dinheiro seja o objetivo e a condição fundamental da arte”, disse ela.
Azenberg concorda com ela. “O maior problema isolado é que a Broadway antigamente oferecia um equilíbrio entre dinheiro e arte, mas hoje pende muito mais para o dinheiro”, disse ele. A solução, propõe ele, é que estrelas como Meryl Streep, Kevin Kline e Al Pacino se comprometam a atuar em peças de temporada limitada pelo menos uma vez a cada três anos.
“As peças só precisam permanecer em cartaz três ou quatro meses, e pode-se cobrar preços normais, sem acréscimo”, disse o produtor. “Já comprovamos que, durante aqueles três meses, essas peças podem ser altamente lucrativas.”
Mesmo assim, muitos concordam que medidas radicais como essa só vão acontecer em tempos de desespero.
“Há vinte anos, quando comecei neste ramo, as pessoas faziam a mesma pergunta, e as coisas não mudaram desde então”, comentou Nick Scandalios, vice-presidente da Nederlander Organization, proprietária de nove teatros na Broadway. Desde os anos 1920 ouvem-se avisos de que o teatro estaria morrendo. “Eu, na realidade, pendo um pouco para o otimismo”, ele acrescentou. “Mas sei que as pessoas estão assustadas [com a crise], em toda parte.”


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