São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009

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Tendências Mundiais

China também investe em plano de recuperação

Wu Hong/European Pressphoto Agency
Os chineses gastarão centenas de bilhões de dólares em infraestrutura, como uma ferrovia na Província de Shandong

Por KEITH BRADSHER

CANTÃO, China - Num esforço para conter os efeitos da crise global, a China começou a investir centenas de bilhões de dólares em novas estradas, ferrovias e outros projetos de infraestrutura.
O pacote de estímulo econômico, um dos maiores do mundo, promete levar a modernidade do litoral aos grotões chineses, preparando o país para um novo nível de competição global. Uma ferrovia de passageiros de US$ 17,6 bilhões cruzando o deserto do noroeste da China, uma rede ferroviária para cargas de US$ 22 bilhões na Província de Shanxi (centro-norte do país) e um trem-bala de US$ 24 bilhões entre Pequim e Cantão (sul) estão entre os maiores projetos. Mas há gastos extras sendo planejados em praticamente cada cidade ou condado do país.
E, ao contrário dos EUA, a China tem dinheiro para bancar as obras com pouca dívida e pouco déficit.
A China vai gastar US$ 88 bilhões construindo ferrovias intermunicipais, maior prioridade do plano. Gastou US$ 44 bilhões no ano passado e há apenas cinco anos investiu só US$ 12 bilhões, segundo John Scales, coordenador de transportes para a China no Banco Mundial.
“Não acho que nada se compare a isso, talvez só o crescimento da rede ferroviária dos EUA no começo do século 20”, disse Scales.
O medo, e não a competição, motiva essa febre. Líderes chineses estão cada vez mais preocupados com a desaceleração econômica e com o crescente risco de protestos de trabalhadores descontentes.
O PIB cresceu apenas 6,8% no quarto trimestre de 2008 em relação a um ano antes. O crescimento para o ano todo foi de 9 %, depois de atingir 13% em 2007, e tudo indica que a desaceleração continuará. As autoridades econômicas “já estão no modo de pânico”, segundo Qu Hongbin, economista-chefe do HSBC para a China. “Eles vão gastar como se não houvesse amanhã.”
Quando a inflação começou a virar um problema na China, no primeiro semestre de 2004, Pequim lançou um esforço de quatro anos para evitar um superaquecimento econômico. Proibiu os governos locais e provinciais de levarem adiante muitos projetos para estradas, aeroportos, metrôs e outras obras.
Agora, Pequim estimula tais projetos. A soma dos gastos nacionais, provinciais e locais promete mudar o rosto da China, dando ao país infraestrutura de primeiro nível para transportar bens e pessoas em longas distâncias, de forma rápida, barata e confiável.
“O aumento dos gastos em infraestrutura certamente irá contribuir para o crescimento da produtividade da China e melhorará sua competitividade de longo prazo, permitindo que ela se distancie dos seus vizinhos asiáticos que enfrentam muito mais restrições —seja por altos níveis de déficit ou de dívida pública— para gerar um estímulo fiscal”, disse Eswar Prasad, pesquisador-sênior do Instituto Brookings.
Feng Fei, diretor-geral de economia industrial no setor de pesquisa de políticas públicas do Conselho de Estado (gabinete) chinês, disse que o acentuado aumento dos investimentos ferroviários criará benefícios duradouros. A meta é reduzir a dependência dos chineses em relação aos automóveis e ao petróleo importado, segundo ele.
A China já construiu nos últimos quatro anos tantos quilômetros de trens-bala quanto a Europa em duas décadas. Um novo serviço entre Pequim e Tianjin, inaugurado há poucos meses, faz a viagem a até 350 km/h.
O resto do programa de estímulo econômico será destinado principalmente a aeroportos, rodovias e projetos ambientais, especialmente unidades de tratamento de água, segundo Feng.
É difícil calcular exatamente quanto do total de gastos pode ser considerado estímulo à economia. O governo central anunciou há dois meses que pretendia desembolsar US$ 586 bilhões em programas de estímulo nos próximos dois anos. Se todo esse dinheiro vier de novos gastos, isso representaria 14% da produção econômica chinesa no ano passado. Mas o plano inclui alguns projetos que já estavam previstos. E o governo por enquanto liberou menos de um terço da verba.
Dong Tao, economista chinês do Credit Suisse, estima que o pacote oficial de estímulo deva acrescentar 1 a 3 pontos percentuais no crescimento deste ano.
É claro que não há garantias de que os enormes gastos previstos para áreas pobres do interior se mostrem economicamente viáveis. Mas, com a súbita freada da máquina exportadora chinesa e com o esvaziamento da bolha imobiliária do país, praticamente ninguém questiona a necessidade urgente de que o governo gaste.


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