São Paulo, segunda-feira, 02 de março de 2009

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Suplementos vitamínicos são postos em xeque


Betacaroteno e ácido fólico em doses altas podem ser prejudiciais


Por TARA PARKER-POPE

Desde que o Prêmio Nobel Linus Pauling defendeu o consumo de "megadoses" de nutrientes essenciais, 40 anos atrás, os EUA viraram consumidores fiéis de vitaminas. Hoje, cerca de metade dos adultos americanos usa algum tipo de suplemento nutricional, ao custo de US$ 23 bilhões por ano.
Mas vale a pena ingerir tantas vitaminas? Vários estudos recentes não comprovaram que vitaminas adicionais, pelo menos na forma de cápsulas ou comprimidos, ajudem a prevenir doenças crônicas ou a prolongar a vida.
A notícia mais recente a esse respeito é de 9 de fevereiro: estudo publicado no "The Archives of Internal Medicine" acompanhou oito anos de consumo de complexos multivitamínicos por 161 mil mulheres. Apesar de descobertas anteriores sugerirem que vitaminas reduzem o risco de males cardíacos e certos tipos de câncer, o estudo não constatou nenhum sinal disso. E, em outubro, um estudo com 35 mil homens jogou por terra as esperanças de que altas doses de vitamina E e selênio pudessem reduzir o risco de câncer de próstata.
É claro que os consumidores estão regularmente sujeitos a notícias e estudos conflitantes sobre os benefícios das vitaminas. E, para a consternação de especialistas, as notícias sobre a ineficácia delas não parecem desanimá-los. "O público em geral ignora os resultados de testes benfeitos", disse Eric Klein, presidente do Instituto Urológico e Renal Glickman, da Clínica Cleveland. "A crença das pessoas nos benefícios de vitaminas e nutrientes não é fundamentada pelos dados científicos disponíveis."
Todos precisam de vitaminas -nutrientes essenciais que o corpo não produz sozinho. A insuficiência de vitamina C, por exemplo, provoca escorbuto, e a insuficiência de vitamina D pode causar raquitismo. Mas uma dieta balanceada normalmente fornece um nível adequado desses nutrientes, e hoje muitos alimentos vêm reforçados com doses extras de vitaminas e minerais.
De qualquer maneira, a maioria das pesquisas importantes sobre vitaminas feitas nos últimos anos vem focando não as deficiências, mas a possibilidade de altas doses de vitaminas poderem prevenir ou tratar doenças crônicas. Sabe-se que pessoas que comem muitas frutas e verduras ricas em nutrientes apresentam índices mais baixos de doenças cardíacas e câncer, mas não estava claro se a ingestão de altas doses dos mesmos nutrientes no formato de comprimidos pode resultar em benefícios semelhantes.
Um editorial de janeiro do "Journal of the National Cancer Institute" observou que a maioria dos estudos não demonstrou nenhum efeito das vitaminas na prevenção do câncer -com poucas exceções, como a descoberta de que a ingestão de cálcio parece reduzir em 15% a recorrência de pólipos pré-cancerosos no cólon.
Mas alguns estudos também apontaram danos inesperados ligados à ingestão de vitaminas, entre elas o betacaroteno. Em 2007, o "Journal of the American Medical Association" revisou os índices de mortalidade em testes aleatórios de suplementos de antioxidantes. Em 47 testes realizados com 181 mil participantes, o índice de mortalidade foi 5% mais alto entre os consumidores de antioxidantes. Os principais culpados foram a vitamina A, o betacaroteno e a vitamina E.
Cientistas suspeitam que os benefícios de uma dieta saudável decorrem do consumo da fruta ou verdura inteira, não apenas das vitaminas individuais. "Talvez não haja um componente único das folhas verdes que seja responsável pelos benefícios à saúde", disse Peter H. Gann, diretor de pesquisas do departamento de patologia da Universidade de Illinois em Chicago. "Por que adotamos uma abordagem reducionista, tirando uma ou duas substâncias químicas e administrando-as isoladamente?"


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