São Paulo, segunda-feira, 02 de março de 2009

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Ciência estuda se fertilização in vitro traz riscos genéticos

Por GINA KOLATA

A fertilização in vitro vem sendo feita com sucesso há 30 anos. Milhões de crianças nasceram e se desenvolveram com saúde. E a primeira "bebê de proveta", Louise Brown, nascida no Reino Unido em 25 de julho de 1978, hoje já tem seu próprio filho, concebido sem essa técnica.
Mas cientistas sempre se perguntaram se podem ocorrer mudanças sutis num embrião que durante vários dias é cultivado numa placa de Petri, como é o caso dos embriões criados com a fertilização in vitro (FIV) -e, em caso positivo, se isso pode gerar consequências.
Hoje, com novos estudos e técnicas que permitem aos cientistas sondar genes das células embrionárias, começam a surgir respostas provisórias a essas indagações.
As questões em pauta não guardam relação alguma com as chances de uma mulher ter gêmeos, trigêmeos ou mesmo, como aconteceu recentemente na Califórnia, óctuplos. Elas envolvem a possibilidade de ocorrerem mudanças na expressão dos genes ou em seus padrões de desenvolvimento.
Por exemplo, alguns estudos indicam que pode haver padrões anormais de expressão genética associados à FIV e um possível aumento de desordens genéticas raras -mas devastadoras- que parecem estar diretamente vinculadas àqueles padrões incomuns de expressão genética. Também parece haver um aumento no risco de partos prematuros e bebês nascidos com peso baixo.
Em novembro, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças publicaram um artigo relatando que bebês concebidos por FIV ou por uma técnica na qual espermatozóides são injetados em óvulos apresentam um risco ligeiramente maior de defeitos congênitos, incluindo uma fenda entre as duas câmaras do coração, fenda ou lábio leporino e esôfago incorretamente desenvolvido.
O estudo envolveu 9.584 bebês nascidos com deformidades e 4.792 bebês sem deformidades. Entre as mães dos bebês sem deformidades congênitas, 1,1% tinham usado FIV ou métodos de reprodução relacionados, contra 2,4% das mães dos bebês com deformidades congênitas.
A descoberta é preliminar, e os pesquisadores acreditam que a FIV não traz riscos excessivos. A chance de qualquer bebê ter deformidades congênitas é de 3%.
Mas a pergunta real -quais são as chances de um bebê nascido por fertilização in vitro apresentar deformidades congênitas?- ainda não foi respondida de modo definitivo. O estudo dos CCDs indica riscos comparativos, mas não riscos absolutos.
Entretanto, embora os riscos pareçam pequenos, cientistas que estudam a biologia molecular de embriões cultivados em placas de Petri dizem que gostariam de entender melhor o que acontece.
Mas não é fácil acompanhar os bebês nascidos após uma fertilização in vitro ou injeção introcitoplásmica de espermatozóides. E, se houver problemas decorrentes de mudanças epigenéticas, eles podem não se manifestar até a idade adulta.
"Quando se enviam questionários, a tendência é que sejam respondidos pelos pais que tenham tido um problema ou pensam que o tiveram", disse Zev Rosenwaks, diretor do Centro de Medicina Reprodutiva e Infertilidade do Centro Weill Cornell de Nova York. Aqueles que não respondem tendem a ser os pais de filhos aparentemente sem problemas, fato que imprime um viés aos dados obtidos.
O grupo de Rosenwaks financiou seus estudos quase inteiramente com dinheiro próprio. As pesquisas, disse ele, concluíram que "mesmo que houvesse um pequeno aumento na incidência de anormalidades, o índice não foi muito mais alto do que na população em geral". Outros, como Alistair Sutcliffe, do University College de Londres, dizem que o campo necessita urgentemente de mais informações. "O estudo perfeito ainda não foi feito", disse ele.


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