São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011

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O desafio é trabalhar fora da Nasa

A nova fronteira dos astronautas: encontrar um emprego na Terra

Nasa, Via Associated Press
A Nasa reduziu os voos tripulados ao espaço. Alguns astronautas vão voar para a Estação Espacial Internacional em cápsulas Soyuz russas

Por KENNETH CHANG

E agora? Os astronautas da Nasa estão se perguntando exatamente isso, já que o programa dos ônibus espaciais está terminando e suas probabilidades de voar tão cedo para algum lugar diminuem. A Endeavour tem lançamento marcado para 29 de abril, e a Atlantis deverá fazer a última missão dos ônibus espaciais em junho, mas todos os lugares estão reservados.
"O moral está bem baixo", disse Leroy Chiao, um ex-astronauta que hoje trabalha para uma empresa que pretende oferecer voos espaciais para turistas. "É uma época de grande incerteza."
Sob o presidente Obama, o programa de voos espaciais tripulados da Nasa foi abreviado. Os programas Ares I e Constellation, que deveriam suceder os ônibus espaciais e levar astronautas à Lua, foram cancelados, e a Nasa está contratando empresas de fora para propor alternativas.
Nos próximos anos, os astronautas americanos vão concorrer por um punhado de vagas na Estação Espacial Internacional, voando para lá em cápsulas Soyuz russas.
"Esperamos superar esse obstáculo e continuar explorando", disse Peggy A. Whitson, diretora do departamento de astronautas da Nasa, cujo trabalho inclui selecionar astronautas que vão tripular cada missão espacial. Embora os ânimos estejam um pouco baixos, ela disse, "teremos de ver -a Nasa já passou por muitas fases diferentes como a de agora".
Somente no ano passado, 20 astronautas deixaram o serviço ativo na Nasa; hoje, restam 61, contra um pico de cerca de 150 em 2000. Na época, a agência se preparava para tripular a Estação Espacial Internacional e os ônibus espaciais que a supriam.
A mudança fez uma grande diferença para pessoas como John M. Grunsfeld, o "Dr. Conserta-Tudo" do Telescópio Espacial Hubble, que voou cinco missões para a Nasa. Depois de seu último voo, em maio de 2009, ele perguntou à doutora Whitson sobre sua probabilidade de voltar ao espaço. "Ela foi honesta", diz o doutor Grunsfeld. "De fraca a zero."
Por isso, em janeiro de 2010, ele deixou a Nasa para se tornar vice-diretor do Instituto de Ciência do Telescópio Espacial em Baltimore, que opera o Hubble.
O capitão Scott D. Altman, da Marinha, voou em quatro missões da Nasa. Mas, com 1,63 metro, ele não cabe em uma cápsula Soyuz. Hoje, ele trabalha para a ASRC Research and Technology Solutions em Maryland, que presta serviços de engenharia para a Nasa.
A agência espacial continuará contratando astronautas, mas não da safra do capitão Altman. No próximo ano ou dois, a agência vai recrutar uma nova classe de seis a 12 astronautas, diz a doutora Whitson. Se a Nasa decidir reduzir os turnos de serviço na estação espacial de seis para quatro meses, haveria necessidade de mais astronautas. Enquanto isso, as oportunidades para astronautas fora da Nasa são pequenas, mas estão crescendo.
A Virgin Galactic, parte do império de Richard Branson, procura três pilotos espaciais para seu avião-foguete SpaceShipTwo, que poderá iniciar viagens de turismo espacial no próximo ano. Enquanto o SpaceShipTwo fará apenas duas voltas suborbitais, oferecendo alguns minutos de ausência de gravidade, outras companhias -como a Boeing e a Space Exploration Technologies Corporation, mais conhecida como SpaceX- desenvolvem espaçonaves que poderão voar até a Estação Espacial Internacional e outros lugares.
Garrett E. Reisman, que entrou para o corpo de astronautas em 1998, trocou a Nasa pela SpaceX em março. O doutor Reisman havia passado mais de três meses no espaço e trabalhou no braço robótico da estação espacial.
"Ser astronauta é o melhor emprego do mundo", disse Reisman, 43. "Foi muito difícil deixá-lo voluntariamente."
Se tivesse ficado na Nasa, ele teria tido uma chance de voar de novo, mas decidiu sair. Hoje, ele trabalha em um foguete (o Falcon 9) e uma espaçonave (Dragon) que deverão levar passageiros e carga para a estação espacial.
Para cada astronauta que deixa a Nasa por causa da idade ou da falta de oportunidade, existem vários jovens que desejam ocupar seus lugares.
O emprego ainda é tão romântico quanto os critérios são rígidos. Segundo o site da Nasa, os candidatos a astronauta devem atravessar a nado três vezes uma piscina vestindo macacão de voo e tênis; e também é preciso ter formação avançada em ciências ou matemática.
As exigências são ainda mais estritas para pessoas que querem trabalhar na estação espacial: é preciso falar russo, conhecer robótica, ter treinamento em caminhadas espaciais e ser suficientemente saudável para passar seis meses no espaço.
"Estar no espaço é como estar em um lugar mágico", disse a coronel Pamela Ann Melroy, da Força Aérea, a segunda mulher astronauta que comanda uma missão do ônibus espacial.
Ela deixou a Nasa em 2009 por saber que haveria intensa disputa por astronautas pelo comando de um dos poucos voos restantes.
"Eu realmente não queria estar na situação de ficar pendurada, esperando conseguir um deles", ela disse.
A coronel Melroy ainda está triste pela perspectiva cancelada de voar na Ares I. "Teria sido fantástico", ela disse.


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