São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011

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LENTE

Poderio aéreo tem bases incertas

No dia 14 de maio de 1940, um enxame de aviões de guerra nazistas escureceu o céu sobre Roterdã, semeando chamas, terror e destruição. Horas depois, o governo holandês rendeu-se a Hitler.
Exatamente como haviam previsto teóricos militares do pré-guerra, uma nova arma assombrosa, o bombardeiro estratégico, tornara virtualmente desnecessário o combate em terra.
Desde então, estrategistas vêm tentando vencer guerras empregando apenas o poderio aéreo. Mas confiar em demasia nesses ataques pode ser "ilusão perigosa", avisou Michael Beschloss em "The Times Book Review".
Na resenha que publicou sobre o livro "The Age of Airpower" (a era do poderio aéreo), de Martin van Creveld, Beschloss escreveu: "Espero que, nesta primavera, o livro pontual de Van Creveld lembre os líderes da Otan que supervisionam a campanha aérea na guerra civil líbia de quão frequentemente temos visto o uso do poderio aéreo levar inesperadamente a combates em terra travados sobre areia movediça".
De fato, após Roterdã, a maioria dos casos na Segunda Guerra Mundial em que cidades foram sujeitas à devastação ao atacado parece ter reforçado a disposição das nações a continuar lutando, pelo menos até os ataques nucleares contra o Japão. E os bombardeios de saturação dos EUA no Vietnã não conseguiram desalojar uma guerrilha inimiga resoluta. Mas o poderio aéreo tem tido alguns êxitos: os ataques aéreos da Otan em 1995 obrigaram os sérvios a negociar a paz.
Para os responsáveis políticos, as armas high-tech ainda aparentam ser uma opção sedutora e aparentemente destituída de riscos. Mísseis cruise de longa distância e aviões sem tripulantes podem ser controlados desde bunkers seguros ou navios situados a milhares de quilômetros de distância e podem lançar ataques com precisão cirúrgica.
Eliminar o risco de vítimas civis poderia mudar a aparência dos combates. Robôs que caminham, rolam e rastejam, equipados com sensores e armas, estão em fase de planejamento. Alguns especialistas acreditam que revolucionarão o Exército, ao permitir que operadores ataquem de distâncias seguras. Mas, como escreveu John Markoff no jornal "The New York Times", "os adversários dizem que os guerreiros robôs reduzem as barreiras à guerra, aumentando a disposição em entrar em conflitos".
É possível que todos esses armamentos sofisticados ligados a redes computadorizadas mostrem-se vulneráveis. No ano passado, o Stuxnet, um worm nocivo de computador que provavelmente foi desenvolvido por programadores israelenses e americanos, desabilitou as centrífugas de gás que são cruciais para o programa de armas nucleares do Irã, relatou o "Times".
Armas semelhantes poderiam ser empregadas contra países tecnologicamente mais avançados. Em seu livro "Cyber War: The Next Threat to National Security and What to Do About It" (ciberguerra: a próxima ameaça à segurança nacional e o que fazer contra ela), Richard A. Clarke, o ex-czar americano do contraterrorismo, avisa sobre "um ciberataque maciço ... que derrube as redes elétricas por semanas, paralise os trens, impeça aviões de decolar, provoque explosões em oleodutos e ateie fogo a refinarias".
Clarke denomina isso de "um Pearl Harbor eletrônico".
Mas, se o ciberataque deixasse um país demasiado paralisado e aterrorizado para sequer contemplar a possibilidade de reagir, então "Roterdã eletrônico" poderia ser uma analogia mais apropriada.
KEVIN DELANEY


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