São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011

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ANÁLISE ECONÔMICA

Virada à direita na Finlândia preocupa UE

Por SUZANNE DALEY
e JAMES KANTER


HELSINQUE, Finlândia - Quase não há um país no continente que tenha sido defensor mais firme da União Europeia que a Finlândia. Durante mais de 20 anos, os eleitores escolheram os mesmos três partidos para ocupar o poder em vários governos de coalizão, com poucas modificações nas políticas.
Até agora.
Na eleição geral de meados de abril, o partido nacionalista e populista Autênticos Finlandeses emergiu da obscuridade política depois de fazer campanha sobre os males da União Europeia e de suas ajudas à Grécia e à Irlanda. Ele conseguiu 39 assentos no Parlamento finlandês -quase oito vezes mais do que conquistou na eleição de 2007- e é provável que se torne parceiro em qualquer governo de coalizão.
As eleições tiraram do poder o Partido de Centro e deixaram esse pequeno e próspero país vacilante.
Partidos contrários à União Europeia e aos imigrantes estiveram em ascensão na Suécia, Itália, Hungria e Holanda no último ano, e outros poderão segui-los. É uma tendência preocupante para os defensores da União e dos seus esforços para proteger o euro oferecendo empréstimos de emergência para os membros mais fracos.
Os socorros financeiros exigem aprovação unânime de todos os membros da zona do euro, e há temores de que se a Finlândia recuar, outros poderão acompanhá-la.
Neste momento, a Europa considera um pacote de socorro direcionado aos portugueses. É improvável que o voto finlandês atrapalhe ou retarde o dinheiro para Portugal, mas poderá causar momentos de nervosismo.
O novo governo deverá incluir o Partido de Coalizão Nacional, de centro-direita, o Partido Social Democrático, de esquerda, e os Autênticos Finlandeses.
Durante a campanha, o líder dos Autênticos, Timo Soini, 48, chamou diversas vezes a União Europeia de "coração das trevas". Uma verdadeira democracia, ele disse, "só é possível em países individuais".
"Soini fala uma linguagem comum com palavras comuns", disse Ville Pernaa, diretor do Centro de Estudos Parlamentares da Universidade de Turku, na Finlândia. "Ele disse aos eleitores que estavam desperdiçando dinheiro ao pagar as dívidas de outros. Por que deveriam pagar por elas, quando precisamos de mais médicos nas pequenas cidades da Finlândia?"
Perttu Pouttu, um trabalhador aposentado de uma companhia de energia de Helsinque, disse que votou nos Autênticos Finlandeses. "É claro que as ajudas levantam perguntas", ele disse. "Vamos receber esse dinheiro de volta? Onde estão os bancos? Isso é problema deles."
Pouttu também disse temer que a Finlândia tenha admitido refugiados demais. As duas questões -a UE e a imigração- estão cada vez mais relacionadas em toda a Europa. "A votação avassaladora em partidos como os Autênticos Finlandeses mostra o sentimento entre alguns europeus de que estão perdendo o controle de seu destino, e que seus países estão perdendo a identidade", disse Magali Balent, especialista em política europeia na Fundação Robert Schuman em Paris.
Mas poucos analistas aqui acreditam que Soini tenha alternativa senão se comprometer com as ajudas. Se a Finlândia deixasse de agir, as autoridades da UE disseram que poderiam manter a ajuda através de complexas manobras técnicas.
Olli Rehn, comissário de Assuntos Econômicos e Monetários da UE, incentivou os legisladores finlandeses na valorização dos interesses do país em longo prazo. Na mídia europeia, especialmente na Suécia, os Autênticos Finlandeses foram criticados como racistas de direita. O ministro das Relações Exteriores, Alexander Stubb, e outros defenderam Soini.
"Timo Soini é, na verdade, um homem muito civilizado", disse Lasse Lehtinen, jornalista e social-democrata que foi membro do Parlamento Europeu. "Ele lê muito e pensa muito." Lehtinen disse que Soini se beneficiou na última eleição de insatisfação silenciosa em muitas frentes.
"Eu conheço uma senhora que votou nos Autênticos Finlandeses porque se incomodou ao ver um cigano mendigando na rua", ele contou. "Ela disse que ninguém mendigava nas ruas desde os anos 1940."


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