São Paulo, segunda-feira, 02 de novembro de 2009

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ciência & tecnologia

Cientistas tentam entender por que a terra desliza

Por HENRY FOUNTAIN

SANTA BARBARA, Califórnia - Segurando uma garrafa de água, Dennis Staley se agachou sobre um trecho de terreno árido, limpou o solo da superfície com um dedo e pingou algumas gotas sobre a camada exposta.
Staley e um colega, Jason Kean, pesquisadores do Departamento de Pesquisas Geológicas dos EUA, estavam fazendo uma pausa em seu trabalho em uma manhã recente no Mission Canyon, próximo a Santa Barbara, para dar uma demonstração da interação entre solo e água.
"Ela vai se empapar na superfície", disse Staley. "Mas logo abaixo da superfície vai formar gotas." De fato, as gotas de água continuavam visíveis, como se tivessem sido derramadas sobre um tampo de mesa. "Isso intensifica a enxurrada que desce naturalmente por essas encostas", ele disse.
"É por esse motivo que fazemos tudo isso", ele acrescentou, olhando para o terreno árido, coberto de cinzas.
Para os dois cientistas, "tudo isso" inclui caminhar por encostas de pedras soltas e terra, sem trilhas, passando por tocos carbonizados e pontiagudos de árvores, carregando sensores e sondas, um dispositivo de pesquisa com um tripé e equipamentos variados para montanhismo: cabos, brocas, grampos e baterias.
Como parte de uma pesquisa geológica sobre o risco de avalanches, eles estavam montando uma estação de monitoramento remoto para estudar como e quando a enxurrada decorrente das chuvas pode agregar solo e rochas e tornar-se uma torrente de lama destrutiva.
Como foi desnudado por um incêndio apenas quatro meses antes, o Mission Canyon é um lugar provável para um deslizamento de terra. No sul da Califórnia e em outras partes do oeste americano, onde os incêndios de verão são seguidos pelas chuvas de outono e inverno, os deslizamentos são o resultado quase inevitável.
Mas deslizamentos ocorrem em todo o mundo, muitas vezes em áreas cheias de vegetação. Na cidade californiana de La Conchita, cruzes de madeira marcam o lugar onde dez pessoas morreram quando a encosta não queimada acima da cidade desmoronou em 2005.
Nos últimos vários meses, tufões nas Filipinas e em Taiwan causaram deslizamentos que soterraram aldeias inteiras, matando centenas de pessoas e causando problemas econômicos.
No ano passado, segundo dados reunidos por Dalia B. Kirschbaum, pesquisadora do Centro de Voos Espaciais Goddard da Nasa em Greenbelt, Maryland, pelo menos 540 deslizamentos de terra provocados pela chuva foram relatados em registros públicos ao redor do mundo. Ao todo, mais de 2.100 pessoas morreram.
Diante do preço em vidas e dinheiro, cientistas como Staley e Kean estudam como e quando os deslizamentos acontecem -que características de solo e rochas subjacentes, que grau de inclinação e intensidade de chuva causaram uma avalanche ou uma torrente de lama em um cânion, demolindo casas ou o que houver em seu caminho.
E Kirschbaum e outros estão examinando o risco de deslizamentos em maior escala, usando dados de satélites. O objetivo é avaliar o risco e prever desastres em nível local, regional e até global. Mas os deslizamentos não recebem tanta atenção, do público ou dos cientistas, quanto outros desastres.
Geralmente eles são considerados perigos secundários, subprodutos de catástrofes muito maiores como terremotos, incêndios ou tempestades. Eles são eventos localizados, com frequência ocorrendo em áreas remotas e subdesenvolvidas. E podem ser surpreendentes: uma encosta pode desmoronar em uma tempestade enquanto outra ao lado continua intacta.
"Compreendemos mal o processo através dos quais esses deslizamentos ocorrem", disse David Petley, professor de geografia na Universidade Durham, Reino Unido, e diretor do grupo de pesquisas Centro Internacional de Deslizamentos de Terra.
Petley mantém um banco de dados de deslizamentos fatais desde 2002, em parte porque o conhecimento de quando e onde o deslizamento ocorre é um passo para compreendê-lo, disse.
Mas outro motivo é simplesmente "demonstrar que os deslizamentos de terra têm um grande impacto".


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