São Paulo, segunda-feira, 02 de novembro de 2009

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BARBRA STREISAND

Um instrumento refinado de talento natural

Por ANTHONY TOMMASINI

Tudo sobre o canto veio naturalmente para Barbra Streisand, ela explicou, acrescentando, um pouco timidamente, que quase nunca faz exercícios vocais. "Sou péssima em aquecimento. Acho chato demais", ela disse.
Toda a potência vocal, o refinamento e a riqueza que ela tem não foram produtos de estudo tradicional e análise, ela disse. "Não fiz isso intelectualmente", contou Streisand. "Fiz intuitivamente, inconscientemente. Eu gosto assim."
Streisand, que vive em Malibu, Califórnia, esteve em Nova York para uma recente apresentação de uma noite no clube de jazz Village Vanguard. Mas o grande acontecimento para os fãs de Streisand é seu último álbum, "Love Is the Answer" (O amor é a resposta).
A gravação é uma coletânea de 12 canções e uma faixa bônus, todas melodiosas, em ritmo de jazz, reflexões íntimas sobre o amor, com standards como "Make Someone Happy" e "Smoke Gets in Your Eyes", canções de Johnny Mandel, Leonard Bernstein e Jacques Brel.
O álbum, produzido pela pianista, arranjadora e compositora Diana Krall, apresenta Streisand cantando com um quarteto de jazz, enriquecido por sutis orquestrações. "Algumas pessoas gostam da simplicidade da voz com poucos instrumentos", ela disse. "E foi assim que eu comecei. Então pensei: por que não?"
O som de sua voz, aos 67 anos, é incrivelmente fresco. Mas em meados dos anos 1970 seu canto já era maduro e rico, nunca juvenil.
"Eu me lembro de quando tinha cinco anos e morava no Brooklyn {Nova York], o hall do nosso prédio tinha uma balaustrada de latão e um ótimo som, um ótimo sistema de eco", ela disse. "Eu costumava cantar no corredor. Era conhecida como a garota da rua que tinha boa voz. Sem pai, e boa voz. Essa era minha identidade." (Seu pai, o professor Emanuel Streisand, morreu de complicações de uma crise de epilepsia, quando ela era bebê.)
Mais que o prazer de cantar, foi sua capacidade de usar a voz para atuar, exprimir-se e transmitir palavras que lhe interessou quando era menina, ela explicou.
"A vida era peculiar para mim então", ela disse. "Eu era alérgica ao campo. Fui criada nas ruas, no quente e úmido Brooklyn, com ar abafado." Mas "havia... eu não gosto de dizer sofrimento, não quero ser muito chorona", ela acrescentou. "Mas as palavras significavam algo para mim, as palavras falavam comigo. Acho que isso de certa forma influenciou inconscientemente tudo o que eu faço."
Sua mãe, Diana, uma secretária de escola pública, tinha uma linda voz natural, "leve e operística", disse Streisand. Seu primeiro treinamento de voz foi uma aula com uma professora de canto. Por conta própria, em uma carreira de quase 50 anos, Streisand descobriu praticamente tudo o que se pode saber sobre cantar.
Quando lhe perguntei se era verdade que basicamente não sabe ler música, respondeu: "Eu não leio música. Nem basicamente. Nem mesmo não basicamente." Ao aprender canções, geralmente tudo o que ela precisa fazer, segundo disse, é escutar a melodia uma vez e já a decora.
Além de ganhar um Oscar de melhor atriz em 1968 por "Funny Girl - A Garota Genial", Streisand ganhou um Oscar por melhor canção original, "Evergreen", tema de seu filme "Nasce uma Estrela", de 1976, que ela compôs sobre uma letra de Paul Williams.
A profundidade de sua musicalidade se revela quando ela fala sobre sua fantasia de compor uma sinfonia. "Eu escuto essas melodias", ela disse. "Eu escuto frases de sopros e frases de cordas. É isso que é divertido em gravar com uma orquestra."
Ela sabe cantar coisas, e compositores-arranjadores como Bill Ross ou Jeremy Lubbock têm a habilidade de escrevê-las, ela disse. Durante sua carreira, Streisand percorreu todo o mapa estilístico, mas ela ainda é a artista mais vendida na história nos EUA. Um pouco de sua insegurança apareceu ao falar sobre o novo disco. Ela perguntou: "Você gostou de 'Smoke Gets in Your Eyes'?" Se gostei? Está brincando?


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